APL REALIZA SEMINÁRIO 80 ANOS NELSON SALDANHA
Seminário 80 anos Nelson Saldanha – “Filosofia e Ciências Sociais
Nasceu em Pernambuco, nasceu no Recife, em 1933. Livro de Sonetos (1982). A Relva e o Calendário (1990) Diversos artigos e ensaios publicados em revistas brasileiras e do exterior. Em 1977 publicou Poesia, livro que levou o selo das Edições Pool.Ocupa a cadeira n. 12 da Academia Pernambucana de Letras. Nélson Saldanha é poeta, crítico de idéias, ensaista e professor universitário.Hoje se destaca como um dos maiores poeta vivo de renome nacional. O filósofo Nelson Saldanha expõe e falacom tom seguro e conhecimento profundo sobre o seu livro “Pela preservação do humano”, um conjunto de ensaios que tratam de antropologia filosófica e teoria política. A obra foi inicialmente publicada nos anos 80 e, na visão do autor, merecia ser resgatada. Nelson Saldanha afirma praticar atualmente a antropologia filosófica, filosofia da história e análise da filosofia. Nesta colocação que faz ao mundo das letras , o erudito autor fala sobre as dimensões da cultura, as influências egípcias e gregas, e as contribuições intelectuais da América Latina. E ainda sobre a polêmica Comissão da Verdade. “Ninguém é dono da verdade. E uma comissão que tem a verdade, que fabrique a verdade, é autoritarismo. Eu não gosto dessa propriedade da verdade”, afirma.A Academia Pernambucana de Letras realiza o Seminário 80 anos Nelson Saldanha – “Filosofia e Ciências Sociais”, que acontecerá nos dias 25 e 26 de março, às 15 horas, na APL.
A CASA
Destelho a casa e fecho-me nas salas.
Entro em mim mesmo e em mim estou: andando
pelos meus corredores, que são valas.
Refaço meus mosaicos, empilhados
junto às paredes, em que estalam febres,
e em que procuro as portas deslocadas.
Subo e desço no escuro estas escadas
que dão aos meus porões, ora entulhados
com lixo e com raízes. E entretanto
vou rever as colunas, e o orvalho
acumulado sobre as folhas, cujas
nervuras reconheço talho a talho.
E reencontro os castiçais molhados
postos sob a ramagem, e estes ares
que são da noite, e dormem. E revejo
o verde escuro e triste dos veludos
e dos musgos, e o azul vitrificado
que vem dos sonhos mortos, repassados.
Apoio-me a parede, úmida e antiga,
que reconstruo com esforço, e escondo
debaixo de uma pedra um grão de sonho.
Assumo e sofro o chão em que o deponho
depondo-me também, sobre os batentes
que pesam como sombras, entre as sombras
que fariam as árvores ausentes.
Assumo e sou a casa e o sonho, e abarco,
no sonho inabitável que me habita,
os encaixes, os vidros, os ferrolhos,
forros e pisos, onde andaram passos
de vida e morte, e onde escoaram dias
ora também passados para sempre.
Diga aí!
“Enquanto meio de conservação do indivíduo, o intelecto desenvolve suas forças principais na dissimulação; esta é, com efeito, o meio pelo qual os indivíduos mais fracos, menos robustos, subsistem, na medida em que lhes é recusada a possibilidade da luta pela existência com os cornos ou os dentes de um predador. Com o homem esta arte da dissimulação atinge o auge.” (Friedrich Nietzsche – Filósofo alemão)
Diga lá!
“A modernidade nos deixou como herança um enorme desenvolvimento tecnológico, mas nos deixou também uma absurda crise social, ambiental, econômica, por isso desmorona em consequência de sua própria exaustão. A sociedade moderna que nasceu e se constituiu como promessa de futuro, um futuro melhor construído pela ciência, acabou de fato não privilegiando ninguém: diante da violência em grande escala e da iminência de desastres ecológicos, somos todos iguais.” (Viviane Mosé – Mestra e Doutora em Filosofia)
LEI DE INCENTIVO À CULTURA
BLOGUEIROS DE PERNAMBUCO QUEREM A PRESENÇA DE GRANDES EDITORAS NA IX BIENAL
Uma articulação de Blogueiros de Pernambuco está em plena campanha para que as grandes editoras estejam presentes na IX Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.A mobilização se dá pelas redes sociais Twitter e Facebook, além dos próprios blogs, que são voltados especificamente para o público literário.Nas Redes e nos Blogs, mensagens e cartazes eletrônicos estão sendo divulgados com o objetivo de fortalecer a presença de editoras de grande porte durante o evento, que acontece entre os dias 4 e 13 de outubro deste ano.
POEMAS DE NATANAEL LIMA JR, FREDERICO SPENCER, TACIANA VALENÇA E ANTONINO OLIVEIRA JÚNIOR
um acordo fiz contra o acordo:
e ser grito e lábios eternamente
um acordo fiz contra o acordo:
ser palavras qual extensão da vida
um acordo fiz contra o acordo:
um acordo fiz contra o acordo:
jamais ressuscitar a dor,
*In “À espera do último girassol & outros poemas”. 2011.
Aprisionado o tempo no caderno
desbota de amarelo as palavras
sobre o linho, descansam os poemas
na cal da noite, se tecem
ao amanhecer, fecham-se em seus ninhos.
A pena debruçada no tempo
sobre o tecido enrugado das palavras
nem o sexo das manhãs, inventadas.
No branco do papel, a trava do tempo
deixa suas marcas, transparentes
num animal dolente, pesam como patas.
num sussurro leve durante teu dia
soprando em teu ouvido amor em poesias…
um coração que te agasalha sonhando
além de tudo que estar por vir…
*Taciana Valença é poeta e edita a Revista “Perto de Casa”.
Antonino Oliveira Júnior*
O coração em (des)compasso
Sentimentos doídos e (re)movidos
E dois seres quase em (des)amor…
(re)escrita e (re)montada
E tantas vezes (re)contada a dois.
para (des)começar a solidão
e tentar a seu modo, a seu jeito
(des)construir o sofrimento vão
E (re)construir um amor desejado.
*Antonino Oliveira Júnior é poeta, editor do blog de Antonino, membro da Academia Cabense de Letras.
fonte:blogdomingocompoesia
por Fátima Quintas*
Quando a luz se apagava e o silêncio se fazia notar na penumbra da praça da vila; quando os pássaros arribavam em respeito ao prenúncio da noite; quando homens e mulheres retiravam as cadeiras da calçada após a prosa espontânea de final de dia; quando o ônibus diminuía a sua marcha, quase parando; quando a atmosfera recebia a aragem da serra do Agreste; quando os postigos das janelas cerravam a claridade última; quando o vizinho agradecia o boa-noite do amigo; quando os carros já se faziam ausentes na rua habitada; quando o corpo parecia reclamar o descanso do dia; quando a cozinha limpa e asseada aguardava o amanhã: — Maria Vitorina se entregava aos volteios da noite insone.
Nunca sabia o que fazer naquela hora tão solitária. Da janela avistava os passos se findando, a noite em plena invasão; ela jamais conseguira a paciência do aguardo dos minutos, o futuro. Lia a página de um livro, atirava-o sobre o tampo liso e envernizado da mesa, lá repousando em estado inerte as folhas escritas por algum autor desconhecido — sequer concentrava-se na leitura dos parágrafos iniciais. Andava pelo corredor. O pensamento evocava visagens outras, delírios.
Se os anos de um querer a mais roubassem do tempo as horas que lhe foram subtraídas; se a pele ressequida se transmudasse na juventude inalterada, sem avanços nem recuos, estática; se o encontro com Emerenciano durasse até hoje; se aquele amor de juras eternas não se dissolvesse com a morte precoce; se os filhos a visitassem assiduamente, pelos menos um dia sim, um dia não; se a irmã não se incomodasse de aceitá-la como ela era; se os ruídos de antigas emoções acalmassem o sofrimento anterior; se o cão a acompanhasse nos corredores da casa, a roçar em sua pernas, a deixar o pelo no vestido de algodão fino, a ameigá-la com o latido choroso, a pular para o seu colo, passivo, atento; se o padeiro não retardasse a entrega da encomenda, dois pães pelo café da manhã e apenas dois ao cear, nenhum outro em lanches levianos; se os dedos bailassem sobre o teclado do piano os Noturnos de Chopin ou as sinfonias de Beethoven; se a ressurreição a tomasse de repente; se a casa fosse a mesma, com os mesmos ruídos dos filhos brincando, fuxicando, brigando, tagarelando; se a vida retomasse o seu princípio: — Maria Vitorina não temeria as horas vagarosas.
Mas os minutos se arrastavam. E já foram tão rápidos, céleres, enganadores na implacável cronologia! Tudo mudara. Ela se agoniava a cada pegada percorrida, ia, vinha, perdia-se na intensa solidão. A casa pequena, o vão de passagem estreito, havia sombras permanentes nas paredes. Alguns retratos, sim; outros, fantasias que habitavam o porão das lembranças. A noite a amedrontava, Maria Vitorina conhecia os retábulos de um sentir já dorido. Desde quando se acomodava àquela situação? Na pacata vila, ninguém a conhecia; moradora de poucos anos, para lá se instalara, fugindo dos excessos da capital, cidade grande, cheia de ilusões e de bofetadas na cara — já não lhe pertencia o espaço urbano; ainda bem que a pequena horta no fundo do quintal servia-lhe de lazer, gostava de plantar e de semear os frutos da colheita. Uma vida sem cor, anônima, avara em reciprocidade de sentimentos.
Logo o relógio tocaria dez horas e ela começaria a rezar; logo iria ler a bíblia para acalmar os nervos à flor da pele; logo deitaria o feijão na panela, com alguma água para amolecer os grãos, velho hábito que nunca largou, apetecia-lhe cultuar tradições, nunca lhe fizeram mal as crendices de outrora; logo riscaria o dia no calendário, matando-o friamente, menos uma jornada a cumprir, o ritual se celebrava com caneta à mão, a fulminar o X irreversível; logo o guarda noturno apitaria e ela se sentaria no banco da cozinha com o retrato de Emerenciano; logo choraria lágrimas ocultas como fazia ao longo da madrugada: — Maria Vitorina tinha consciência do vagar das horas da noite insone.
*Fátima Quintas é escritora, ensaísta, professora universitária, presidente da Academia Pernambucana de Letras.
fonte:domingocompoesia