VIVA FERRUGEM! (Sessão nostalgia). Por  Jose Adalberto Ribeiro

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comentarista  Por  Jose Adalberto Ribeiro  – Jornalista e escritor

Idos do governo de Ribamar Sarney (1988-1990) escrevi no Diario um artigo, baseado em notícia de jornal, sobre a morte de um menino de rua sem nome e sem sobrenome, apelido “Ferrugem” devedor da dívida externa aos banqueiros. Guardei o original datilografado, não sei a data. “Ferrugem” vive, viva Ferrugem!

Décadas de 1980, 1990 havia um refrão: “Fora FMI.” O Brazil era refém da dívida externa, de bilhões de dólares. O FMI era um tigre de papel.

Novos tempos, a dívida pública, na casa dos 3.8 trilhões de reais, é o sorvedouro de recursos do Brazil, tanto ou mais que a Previdência. Os banqueiros sequestraram o Brazil.
Sessão nostalgia: Viva “Ferrugem”!

Neste Brazil de 130 milhões de almas, “Ferrugem” era um “cheira-cola” de 10 anos de idade que devia mais de 1 mil dólares de nossa parte de 120 bilhões de dólares da dívida externa. “Ferrugem” morreu sem pagar a sua cota da dívida externa. Morreu debaixo de um ônibus quando cidadãos ordeiros e pacíficos tentavam esfolá-lo por ele ter surrupiado o relógio de uma senhora também ordeira e pacífica. O relógio devia custar uns 100 cruzados, ou 20 a 30 dólares.

Os presidenciáveis certamente nunca ouviram falar em “Ferrugem”, mas falam sempre na dívida externa de 120 bilhões de dólares. “Ferrugem” era um menino levado da breca. Imaginem aos 10 anos de idade já era devedor dos banqueiros internacionais. Família de “Ferrugem”, a mãe lavadeira e os seis irmãos, mora numa favela e deve mais de 10 mil dólares aos Rothschilds, Rockfeller, FMI, James Baker, a curriola toda.

O que os presidenciáveis propõem pra a dívida externa da família “Ferrugem”? O presidente Tancredo Neves havia sido que “a dívida externa não será paga com o sangue e o suor de “Ferrugem”. A mãe lavadeira concorda com Tancredo e recomendava: “Vai trabalhar, “Ferrugem”, vender picolé, engraxar sapato, limpar carro, catar comida no lixo, ter uma vida decente. Com uma vida decente ele não seria caloteiro, não decretaria a moratória da dívida externa na parte que lhe cabia.

O pneu do ônibus decretou a moratória da diva de “Ferrugem”. O ministro Mailson da Nóbrega afirma que o País não irá decretar a moratória, não seremos caloteiros. No mercado financeiro internacional os títulos da dívida deixados por “Ferrugem” estão sendo negociados a 30 por cento do valor nominal. E aumentou o “spread”, taxa de risco. O “spread” para os molecotes que surrupiam relógios e bolsas está permanentemente no limite máximo, ou no patamar máximo, como dizem os economistas.

Milhões de pivetes e adultos da faixa de indigência convivem com um spread de vida máximo. A mãe de “Ferrugem” disse que ele era um bom menino, apesar de ser meio levado na rua. O que ele achava da dívida externa? Essas coisas não lhe passavam pela cabeça de 10 anos, mas se tivesse os 1 mil dólares que devia aos banqueiros internacionais certamente ia comprar picolé, batata frita, e fazer uma farra de sanduiches e refrescos. Nem precisava cheirar cola para criar fantasias.

“Ferrugem” era um pixote ao leo como milhões de outros pivetes levados da breca. Ou o modelo econômico é que é levado da breca e leva à marginalia milhões de pixotes. E leva a cada mês mais de 1 bilhão de dólares para o Exterior, porque somos um povo ordeiro e pacífico de índole cristã. E rolam as cabeças. É como dizia aquele general colonialista na África: “Matem as negras buchudas porque elas irão parir guerrilheiros”.

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