O Papa Bento XVI disse nesta quarta-feira (27) que tem “grande confiança” no futuro da Igreja Católica e afirmou que seu papado teve “águas agitadas”, ao falar publicamente pela última vez como pontífice, um dia antes de sua renúncia.
Assista à íntegra do discurso no vídeo ao lado.
Milhares de fiéis se reuniram na Praça de São Pedro, no Vaticano, para assistir à última audiência pública do pontificado de Bento XVI.
Falando à multidão, Bento XVI afirmou que seu papado, iniciado em abril de 2005, teve alegrias, mas também muitas dificuldades. O pontífice disse que enfrentou “águas agitadas e vento contrário”.
“O Senhor nos deu muitos dias de sol e ligeira brisa, dias nos quais a pesca foi abundante, mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja e o Senhor parecia dormir”, disse.
Mas ele afirmou ter fé em que Deus não vai deixar a Igreja “afundar”.
Assista ao lado ao resumo em português da fala de Bento XVI
“Estou realmente emocionado e vejo uma Igreja viva”, disse o Papa, sempre bastante aplaudido pela multidão.
Ele voltou a afirmar que sua renúncia, anunciada de maneira surpreendente em 11 de fevereiro, foi decidida “não para seu bem, mas para o bem da Igreja”, e reiterou que sabe “da gravidade e da novidade” da decisão que tomou.
“Amar a Igreja significa também ter a valentia de tomar decisões difíceis, tendo sempre presente o bem da Igreja, e não o de si próprio”, disse.
O pontífice, de 85 anos, afirmou que “não vai abandonar a Cruz” e que, pela oração, vai continuar a serviço da Igreja.
“Minha decisão de renunciar ao ministério petrino não revoga a decisão que tomei em 19 de abril de 2005 (ao ser eleito Papa)”, disse.
“Não abandono a cruz, sigo de uma nova maneira com o Senhor Crucificado, sigo a seu serviço no recinto de São Pedro”, completou.
Bento XVI também pediu que os fiéis orem pelos cardeais que, após a renúncia, terão de eleger seu sucessor, em uma tarefa que ele considera difícil.
“Orem pelo meu sucessor! Que Deus os acompanhe”, disse o Papa.
‘Viva o Papa!’
O Papa apareceu para o público, no papamóvel, por volta das 10h40 locais (6h40 de Brasília). Ao longo de um passeio de cerca de 15 minutos pela praça, ele foi cumprimentado com gritos de “Bento! Bento!” e “Viva o Papa!”.
O Vaticano distribuiu 50 mil entradas para a audiência, mas, segundo estimativa da Santa Sé, havia pelo menos 150 mil pessoas na praça para acompanhar a última aparição pública do Papa, um dia antes de sua renúncia.
Vários grupos de pessoas, entre religiosos, seminaristas e estudantes, com bandeiras amarelas (cor do Vaticano) e de países, estavam na praça. Cerca de 70 cardeais também participaram.
Depois da cerimônia, acontece uma breve audiência na Sala Clementina, com algumas personalidades para o tradicional “beija mão”, em que o Papa é cumprimentado.
Quinta-feira, último dia
Na quinta-feira (28), Bento XVI deixará o posto, em um acontecimento sem precedentes na história da Igreja moderna, e passará a ser chamado de “Papa Emérito”.
Na manhã de quinta, no Palácio Papal, o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, fará um pequeno discurso de despedida, e então cada cardeal poderá separadamente se despedir do pontífice. A expectativa é de que cerca de 100 cardeais participem deste encontro.
Durante a tarde, no Pátio de Saint-Damase, no coração do pequeno Estado, a Guarda Suíça carregará suas bandeiras em saudação.
Em seguida, por volta das 13h (horário de Brasília), Bento XVI irá para o heliporto do Vaticano para viajar a Castel Gandolfo, 25 quilômetros ao sul de Roma, a residência de verão do Papa, onde passará dois meses, antes de se estabelecer em um mosteiro no Monte do Vaticano.
Bento XVI chegará à residência de verão e saudará os fiéis a partir da varanda. Esta será sua última aparição como chefe da Igreja. Nada de especial está previsto quando o relógio badalar oito horas da noite (hora local), momento em que oficialmente termina o pontificado. Ele provavelmente estará em oração na capela neste momento.
Às 20h, o pequeno destacamento da Guarda Suíça, em frente à residência, fechará a porta e colocará assim um fim ao seu serviço, reservado exclusivamente ao Papa. Mas a polícia vai continuar a garantir a segurança de “Sua Santidade, o Papa Emérito”.
No Vaticano, a Guarda Suíça continuará a fazer a proteção, apesar do “trono vacante”.
Conclave
No dia seguinte à renúncia, o cardeal Angelo Sodano enviará os convites aos cardeais eleitores — atualmente 115 — para as “congregações gerais” que precedem o conclave, a reunião secreta que escolhe o sucessor de Bento XVI.
Essas reuniões, durante as quais os prelados procuram definir o perfil do futuro Papa, não devem começar antes de segunda-feira.
Nas últimas semanas, os cardeais já começaram, por e-mail e por telefone, as consultas informais para decidir o nome.
Papa Emérito
Nesta terça (26), o Vaticano anunciou que Bento XVI vai manter o nome e o título honorífico de “Sua Santidade” após a renúncia. Ele será chamado de “Papa Emérito” ou “Pontífice Romano Emérito”.O anel papal vai ser destruído, de acordo com a tradição do Vaticano, segundo o porta-voz.
Bento XVI passará a trajar a “batina branca papal clássica”, sem mantelete, segundo o padre Federico Lombardi. Ele também não deve mais usar sapatos vermelhos.
O porta-voz afirmou que Bento XVI tinha tomado as decisões sobre seus títulos após consulta com as autoridades do Vaticano.
A mensagem deixada pelo papa:
“Queridos irmãos e irmãs,
No dia 19 de abril de 2005, quando abracei o ministério petrino, disse ao Senhor: «É um peso grande que colocais aos meus ombros! Mas, se mo pedis, confiado na vossa palavra, lançarei as redes, seguro de que me guiareis». E, nestes quase oito anos, sempre senti que, na barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. Entretanto não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe caiba a primeira responsabilidade; e o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram. Porém, sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito.
Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a compreensão com que acolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesma dedicação ao Senhor e à sua Esposa que vivi até agora e quero viver sempre. Peço que vos recordeis de mim diante de Deus e sobretudo que rezeis pelos Cardeais chamados a escolher o novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Confio-vos ao Senhor, e a todos concedo a Bênção Apostólica.”