Avaliação dos riscos associados ao crédito previu muitas crises que nunca aconteceram
Uma preocupação semelhante motivou a pesquisa do Banco de Compensações Internacionais (BIS) em Basileia, na Suíça. Seu equivalente ao radar é um conjunto de indicadores econômicos que podem detectar crises financeiras. Um desses indicadores é a proporção do crédito concedido a pessoas físicas e empresas não financeiras em relação ao PIB e a sua tendência de longo prazo. Segundo os economistas do BIS Iñaki Aldasoro, Claudio Borio e Mathias Drehmann, hiatos superiores a 9% do PIB são um sinal de alerta de possíveis crises econômicas.
O estudo da equipe do BIS divulgado em 11 de março revelou sinais preocupantes da proporção do crédito em relação ao PIB no Canadá (9,6%), Cingapura (11,1%), Suíça (16,3%) e, sobretudo, na China, com um hiato de 16,7% no terceiro trimestre de 2017, o último dado disponível no banco.
Como um sinal de alerta de crises, a proporção crédito/PIB pode ser avaliada sem outros indicadores, com uma periodicidade trimestral em muitos países. E, segundo Aldasoro e seus colegas, previu 80% das crises desde 1980 nos períodos em que havia dados disponíveis.
Mas a avaliação dos riscos associados ao crédito previu muitas crises que nunca aconteceram. Quando a proporção é elevada, a chance de ocorrer uma crise nos próximos três anos é de “cerca de 50%”, disse Drehmann.
Os problemas agravam-se nos mercados emergentes. Os dados irregulares referem-se a apenas 13 crises financeiras. Só oito dessas crises foram precedidas por hiatos superiores a 9% do PIB. Houve muitos alarmes falsos, como no Chile, de 1993 a 2002, na República Tcheca, de 2007 a 2014 e na Hungria, entre 2000 e 2010. O indicador previu com sucesso a crise na Indonésia, na Malásia e na Coréia do Sul no final da década de 1990, apesar das avaliações incorretas nos anos 1980.
Paul Samuelson, vencedor do prêmio Nobel de Economia, brincou afirmando que o mercado de ações previu nove das últimas cinco recessões dos EUA. No que se refere à China a proporção do crédito acima de 9% em relação ao PIB em meados de 2003, de 2009 e de 2012 indicou a possibilidade de crises que nunca ocorreram. Essa proporção caiu de quase 29% no primeiro trimestre de 2016 para menos de 13% no final de 2017, de acordo com a avaliação da revista The Economist.
A resistência da China às crises deve-se à concentração do crédito interno concedido pelos bancos chineses e outras instituições financeiras. Os países emergentes, ao contrário da China, são mais vulneráveis às crises em razão da dependência do fluxo de capital estrangeiro para financiar seus déficits em conta corrente.
Na opinião de Michael Spencer, do Deutsche Bank, as previsões de crises baseadas na análise dos déficits em conta corrente e dos hiatos no crédito são mais precisas. Em sua avaliação, se o governo da China mantiver o crédito estável em relação ao PIB este ano, o risco de uma crise financeira é de cerca de 5%.
No entanto, assim como os bombardeios dos aviões japoneses surpreenderam os militares americanos acostumados à rotina de alarmes falsos, se algum dia houver uma crise na China muitos ficarão surpresos.
Fonte: The Economist-Do credit booms foretell emerging-market crises?