O Estado Islâmico acumulou uma enorme fortuna com a venda de petróleo, cobrança de impostos e extorsão de dinheiro da população
Os dias em que o vento agitava as bandeiras pretas do Estado Islâmico (Isis) hasteadas em um terço do território do Iraque e em quase metade da Síria pertencem ao passado. Derrotado nos campos de batalha, o Isis perdeu quase 98% do território de seu autoproclamado califado. Dos 100 mil combatentes no auge de sua atuação terrorista no Oriente Médio, em torno de 70 mil morreram. Mas muitos escaparam dos ataques da coalizão internacional liderada pelos EUA e das forças locais e regionais. Alguns continuaram no Iraque e na Síria. Outros foram para a Turquia, ou se juntaram a grupos terroristas no Egito, Líbia e Sudeste Asiático. Cerca de 10 mil combatentes estrangeiros saíram do Oriente Médio.
O Estado Islâmico ganhou milhões de dólares durante sua ocupação de territórios no Oriente Médio. Seus líderes investiram em empresas no Iraque, compraram ouro na Turquia e, segundo um antigo traficante de armas envolvido nas transações, transferiram um enorme volume de dinheiro para outros grupos terroristas. Um deputado iraquiano calcula que o Isis tenha contrabandeado US$400 milhões ao se retirar dos territórios ocupados no Iraque e na Síria.
Os líderes do Isis venderam petróleo dos campos ocupados pelos combatentes, cobraram impostos e extorquiram dinheiro da população nos lugares sob seu controle, além de roubarem US$500 milhões dos bancos iraquianos. Em 2015, de acordo com estimativas, o PIB do califado do grupo terrorista mais rico da história, era de US$6 bilhões.
Os meios tradicionais usados para privar os grupos terroristas de fontes de renda funcionaram até certo ponto com o Isis. A coalizão liderada pelos EUA bombardeou as refinarias dos territórios ocupados e matou alguns de seus doadores. O governo do Iraque suspendeu o pagamento dos salários dos funcionários do governo nas áreas controladas pelo Isis para evitar que os jihadistas os roubassem. A receita com a venda de petróleo diminuiu e o Isis foi obrigado a reduzir os salários de seus combatentes. Mas a situação fugiu ao controle nas áreas ocupadas pelos jihadistas. “Ficou claro que expulsá-los dos territórios conquistados era a maneira mais eficaz de cortar suas fontes de renda”, disse um oficial americano de combate ao terrorismo.
No entanto, os jihadistas, pressionados pelos ataques aos seus territórios, antes de serem expulsos transferiram grandes somas de dinheiro para outros locais por intermédio do sistema hawala, uma rede informal de escritórios na Síria e na Turquia usada por refugiados, traficantes de armas, contrabandistas de venda de petróleo e grupos rebeldes.
As transações do dinheiro do Isis, às vezes de milhões de dólares, levaram semanas para serem concluídas e envolveram a participação de operadores de câmbio na Turquia, Europa, Líbano e Golfo Pérsico. Os operadores se comunicavam por mensagens criptografadas no WhatsApp. Raramente mantinham registros detalhados das transações ou de nomes dos clientes durante a operação.
Grande parte do dinheiro foi transferido para a Turquia, onde, segundo agentes dos serviços de inteligência está sendo investido em ouro e usado para manter as células do Isis em funcionamento. As investigações sobre um atentado terrorista em uma boate em Istambul em 1º de janeiro de 2017 revelaram que o Isis tinha cerca de 100células na cidade, onde a polícia encontrou mais de US$500,000 guardados.
O Estado Islâmico também investiu em negócios legítimos na região do Oriente Médio. No Iraque, usou intermediários para comprar fazendas, concessionárias de automóveis, hotéis e hospitais. A maioria dos intermediários é movida por interesses financeiros e não por ideologia, disse Renad Mansour, do instituto de pesquisa britânico Chatham House.
O Isis também destina parte de seus recursos à reconstrução de cidades destruídas pela guerra, como uma forma de lavar dinheiro. A extorsão, o contrabando e o sequestro continuam a ser fontes de rendas lucrativas à medida que o grupo muda sua estratégia de conquista de territórios e concentra-se em aprofundar o antagonismo entre grupos rebeldes na região. Fontes de renda antigas e novas manterão os jihadistas em atividade por muitos anos.
fonte: The Economist – Islamic State has been stashing millions of dollars in Iraq and abroad