Há algum tempo eu venho encontrando certa dificuldade em estreitar laços com uma pessoa querida. Apesar de saber que o carinho é enorme, nossos caminhos não se encontram. Nossas visões de mundo não entram em sintonia e nossos gestos sempre são mal interpretados pelo outro. Nunca encontramos um meio termo para nada e não importa o que eu faça para satisfazer suas expectativas, termino sempre andando em círculos.
Essa não foi a primeira vez que passei por algo do tipo e provavelmente não será a última. Desarranjos assim são recorrentes na vida. Dolorosos, mas extremamente necessários para nos fazer entender queamor não se cobra. Salvo algumas exceções, é preciso entender que amor, em todas as relações, deve ser uma via de mão dupla, nunca uma disputa na contramão.
Claro que aceitar esses desencontros nunca será fácil. Pelo contrário, seguimos sempre dando murros em ponta de faca. Ou inventando mil e uma maneiras de aparar arestas, tarefa esta que, sinceramente, não precisa ser nossa obrigação depois de inúmeras tentativas fracassadas.
Vale tirar um tempo para pensar que o amor não deve ser uma obrigação, principalmente para quem sente. Tampouco serve como uma desculpa, ao optar pelo abandono ou negligência, para quem é amado. Muito menos motivo de vergonha para esconder o sentimento. Quando a gente ama, escancara. Faz por onde e mostra como. O amor diz respeito a querer e saber estar junto, mesmo sem estar por perto.
Essas experiências desastrosas também nos fazem repensar sobre o fato de que amor não é um dever a ser cumprido com prazo apertado. Amor é doação mútua. É um sentimento que não tem o porquê de ser se te maltrata, se exige hora marcada ou te impõe a seguir regras de etiqueta. Amor não faz você sentir necessidade de se justificar ou procurar pretextos, isso aí é outra coisa: é imposição. E imposição não é amor, é apenas exigência.
Esse não é um tratado para que abandonemos nossas relações a cada divergência. Até porque amor mais do que doação, é também troca – nem que seja de defeitos. Esse texto também não é uma visão romântica do amor, pois sabemos bem que há muito mais falhas do que perfeição, já que ao tentar encontrar a si mesmo no outro, terminamos confundindo todos.
Essa é apenas uma reflexão sobre como e com quem devemos preencher nossos espaços vazios. Parece complicado, não é? Você vai custar a aceitar e muitas vezes vai se recusar a entender, mas amor realmente não se cobra. Do contrário não é amor, é insistência.
Por Malu Silveira