Na delação foi registrado que a Andrade Gutierrez já tinha repassado R$ 60 milhões ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto e teve que pagar os R$ 40 milhões restantes a Edinho. O governo sustenta que as doações, devidamente registradas, da Andrade Gutierrez somam cerca de R$ 20 milhões, segundo o advogado Flávio Caetano, coordenador jurídico da campanha à reeleição. Segundo a delação, parte das doações solicitadas para a campanha de Dilma foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, e parte foi feita em caixa 2 não declarado.
Os executivos da empreiteira dividiram as delações em seis áreas: desvios em obras da usina de Belo Monte; do Complexo Petroquímico do Rio, Comperj; da Ferrovia Norte Sul; da Usina de Angra 3; em estádios da Copa do Mundo; e em campanhas eleitorais.
MARACANÃ ESTÁ ENTRE OBRAS COM PROPINA
Três ex-governadores, entre eles Sérgio Cabral, do Rio (PMDB), também foram citados na delação como beneficiados por propinas em troca de contratos de obras dos estádios da Copa do Mundo. No caso do Maracanã, o dinheiro foi destinado a Cabral, que também recebeu recursos, segundo os depoimentos prestados, por obras no Comperj. Agnelo Queiroz (PT), ex-governador do Distrito Federal, recebeu desvios da construção do Mané Garrincha, segundo a delação. Da arena Amazônia, em Manaus, saíram propina para o ex-governador Eduardo Braga (PMDB), hoje ministro de Minas e Energia.
Ainda segundo o “Jornal Nacional”, os executivos explicaram também que obras do setor elétrico foram destinadas à Andrade Gutierrez como uma compensação pelo pouco espaço em projetos da Petrobras, dominados por Odebrecht e Camargo Corrêa. No caso da usina de Angra 3, no Rio, segundo os delatores, a propina foi direcionada ao almirante Othon Luiz Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear, por meio de uma empresa dele, a Aratec, que é investigada por ter recebido da Andrade Gutierrez R$ 4,5 milhões.
Sobre a contratação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para dar palestras, os dirigentes teriam dito que o serviço foi prestado e que não houve qualquer irregularidade, segundo o jornal.
Em nota à TV Globo, Flávio Caetano afirmou que a suposta delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez, se confirmada, é mentirosa. E que não houve o alegado acordo de pagamento de R$ 700 milhões por sete empresas , e que nenhuma delas doou R$ 100 milhões. Flávio Caetano disse ainda que é mentirosa a afirmação de que a Andrade Gutierrez teria doado R$ 40 milhões. Ele disse que a empresa doou, segundo a coordenação de campanha, exatos R$ 20 milhões.
A defesa de Vaccari Neto disse que não há comprovação dos fatos narrados nas delações. O ex-governador do Rio Sérgio Cabral se disse indignado com o conteúdo dos depoimentos envolvendo seu nome. Agnelo Queiroz, ex-governador do Distrito Federal, não quis comentar. Eduardo Braga sustentou que deixou o governo em 2010 e não assinou contratos para construção de estádio.
LULA IRONIZA CONTEÚDO DE DELAÇÃO
Em encontro com estudantes e profissionais da área de Educação, em São Paulo, o petista questionou o fato de a empresa “ter ligação com os tucanos” e disse que o PT precisa aprender a buscar dinheiro no cofre de “dinheiro bom” das empreiteiras.
— Essa empresa é sabidamente ligada aos tucanos. Será que esse PT é tão besta? A empresa tem um cofre de dinheiro benzido e o PT só vai no cofre podre. O PT precisa apreender a ir só no cofre de dinheiro bom — disse Lula, se referindo às doações eleitorais feitas pela Andrade Gutierrez também para candidatos de oposição.
O ex-presidente afirmou ainda que as pessoas que vão às ruas se manifestar contra o governo federal não são inimigos:
— Eles são apenas desinformados.
Ao falar sobre o convite da presidente Dilma Rousseff para ser ministro, Lula revelou que, inicialmente, recusou a oferta com medo de se desentender com a chefe.
— Se Fidel (Castro) e Che Guevera não couberam dentro de Cuba, como eu e a Dilma vamos caber dentro do Palácio? — questionou, se referindo ao fato de Che ter abandonado o posto que tinha no governo cubano depois da revolução comunista.