O muro erguido pelo Governo do Distrito Federal, no último final de semana, para separar os manifestantes pró – à direita – e contra – à esquerda – o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que será votado no próximo domingo na Câmara dos Deputados, é um aparato de segurança necessário diante da atual conjuntura. Contudo, o instrumento representa, simbolicamente, a divisão político-ideológico que vive o Brasil.
A cisão social relativo à política, todavia, não reflete em alinhamento automático a Governo ou oposição. “O muro em termos representativo de simbologia política não apenas separa lados opostos da sociedade civil organizada, mas também separa a sociedade civil organizada do poder constituído, dos políticos”, avaliou o cientista político Augusto Teixeira, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Teixeira destacou que, outrora, outras divisórias simbólicas foram levantadas, porém em contextos diferentes, como pré-golpe militar, de 1964, com a utilização de barreiras cívicas e Forças Armadas e políticas fazendo a separação de atores antagônicos, além da era de redemocratização pós-1945, que teve elementos de separação por mudança de ordem e regime político.
O cientista político ressaltou que quando as ruas estão descontroladas e a violência se torna endêmica nenhuma força política sozinha consegue dar resposta rápida, o que é ruim tanto para o Governo, que quer se manter, quanto para a oposição que visa chegar ao Governo. “Isso dá margem a necessidade de intervenção militar para garantia da ordem, que é uma atribuição constitucional. Nesta perspectiva é um cenário complicado”, ponderou Teixeira.
“A retórica de violência é colocada por ambos os lados – anti-petista e defensores do Governo. Trata-se de uma defesa política da sua condição permanente ou almejada e pode ser levada a sério e se tornar prática. Isso é problemático”, refletiu. Caso esta violência ganhe grandes dimensões, “dá margem a necessidade de intervenção militar para garantia da ordem, que é uma atribuição constitucional”, ponderou Teixeira. “O custo político desta opção é altíssimo”.
O sociólogo Ricardo Santiago, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou que o Brasil é uma “sociedade de muros”, com divisões simbólicas. “Nossos espaços sociais são cheio de muros e bem delimitados. Há lugares que quem frequenta é a classe média e alta; outros frequentam que não possuem as mesmas condições”, afirmou. “Erguemos muros o tempo inteiro”.
Santiago argumentou que nos momentos de grande polarização, como agora, as pessoas que tendem a ver o mundo de determinada maneira tendem a se aglutinarem. Entretanto, as divisões simbólicas ocorrem desde as roupas e a agressividade por causa delas.
Por Marcelo Montanini
Da Folha de Pernambuco