O SEMELHANTE É MEU IRMÃO E SUA DOR DÓI EM MIM

 

    POR JOAQUIM LAPA

A chacina contra marginais choca algumas pessoas que, como eu e tantos outros, não admitem a violência como solução, seja lá contra quem for o uso desse método perverso de combater a criminalidade com a criminalidade institucionalizada;
todavia, basta a morte de um só inocente para que toda a sociedade proteste e fique consternada.
Não é o número de cinco moços, sem antecedentes criminais, que vinham de uma comemoração e foram confundidos com bandidos que mais nos deixou consternados, indignados, tristes e pesarosos, não foi o fato de simularem haver sofrido agressão, alterar a cena do crime, tudo isso são recursos de defesa, que no caso, ante a evidência dos fatos, inúteis, mas é que no fundo dessa estória de terror está o preconceito.

O fato de confundir esses moços, negros e pobres, com bandidos, deixa-me profunda indignação e a crença de que o preconceito racial é mais forte do que se imagina.
Fico imaginando: estivessem os adolescentes num veículo importado, numa Pajero ou ranger rover, fazendo manobras perigosas, seriam metralhados sem sequer serem antes abordados, investigados? Creio que não.
Daí surge mais uma indignação minha: o preconceito, pois, não é só racial, mas também preconceito contra a pobreza; por serem pobres ou simplesmente por parecerem pobres à primeira vista, em razão do veículo que os conduzia, sumariamente, sem chance de defesa, foram covardemente metralhados.
Esses policiais deveriam ser punidos além do crime de homicídio, por crime de racismo, crime que a Constituição Federal diz ser inafiançável e imprescritível.
Sim. Esses moços foram assassinados por que eram negros e pobres. Os homicídios foram apenas consequências desses sentimentos mesquinhos ainda existentes na mente de muitos. O mais grave disso tudo é que esse preconceito vem de agentes do estado, pessoas que deveriam ser preparadas moral e profissionalmente contra qualquer espécie de preconceito e de discriminação.
E quando a gente pensa que preconceito é coisa do passado, ele surge como a medusa, cheia de serpentes. Faço uma comparação entre esse personagem da mitologia grega, porque tinha, com a sua excessiva maldade, o poder de paralisar e de transformar pessoas em pedras.
Foi assim que ficamos, diante da triste notícia do assassinato desses moços, paralisados, sem palavras.

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