O escritor francês André Maurois dizia que “tais são os azares da vida que todo acaso se faz possível”. O presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, é do tipo que atravessa a rua para pisar numa casca de banana do outro lado.
Quando o Supremo aceitou a ação penal do Mensalão, ele foi jantar num restaurante e falou por celular com seu irmão. Disse que a tendência era amaciar para José Dirceu mas que todos votaram com a faca no pescoço, acuados pela imprensa. Na mesa ao lado, uma boa repórter que Lewandowski não conhecia, Vera Magalhães, da Folha de S. Paulo, anotou tudo e tudo publicou. Desta vez, ele estava em Coimbra, e soube que o avião de Dilma, em vez de fazer escala em Lisboa, por acaso desceria no Porto. Viajou então uns 130 km e, no Porto, se encontrou por acaso com a presidente. Sigilo total. Ou quase total: o repórter Gérson Camarotti, de O Globo, soube do encontro e o divulgou. Os dois presidentes, da República e do Supremo, explicaram que a conversa tinha sido apenas sobre o aumento dos servidores do Judiciário. Então, tá.
Poderiam ter conversado em Brasília, onde um trabalha a pouco mais de cem metros do outro, e sem precisar do sigilo.(Carlos Brickmann)