por Míriam Leitão
A Petrobras não pôs no balanço as baixas contábeis provocadas pela corrupção. Falta transparência à empresa, e também competência. A administração está há meses estudando como calcular as perdas com os desvios e como lançá-las no balanço, reduzindo o valor excessivo de cada ativo atingido.
O recado dado foi assustador. A divulgação do balanço do terceiro trimestre foi adiada algumas vezes desde meados de novembro para que a empresa pudesse expurgar o valor da corrupção. Era isso o que se aguardava. Mas a empresa revelou na publicação ser “impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da Companhia”.
Na publicação, logo no início a empresa nos lembra que as informações não foram auditadas. Nas regras e contratos do mercado de capitais, a revisão do auditor é imprescindível. Um balanço sem ela é um não balanço.
Os métodos usados não teriam sido eficazes e a empresa vai pedir ajuda à SEC, a agência que regula o mercado de capitais nos EUA, para saber qual a melhor forma de abater o valor da corrupção dos ativos atingidos por ela.
É assustador, depois de tudo isso, a Petrobras apresentar um balanço sem baixas contábeis nem revisão do auditor, mesmo que o mercado soubesse que a avaliação preliminar apontava excessos de US$ 20 bi, um valor gigantesco.
O balanço precisava ser divulgado agora para que algumas dívidas não vencessem antecipadamente, como previsto em contrato. Os credores, investidores internacionais, poderiam exigir o recebimento de todo o valor de uma vez. Na verdade, a divulgação da informação financeira feita assim, sem as informações esperadas, foi para americano ver.
Uma empresa deste tamanho não pode ficar sem registros contábeis bem feitos, de acordo com a melhor tecnologia, segundo os melhores parâmetros aceitos internacionalmente, auditados por empresas de auditoria independente para, entre outras coisas, evitar a cobrança antecipada de dívidas, uma forma de o credor se defender de uma companhia sem transparência.
A Petrobras também divulgou ontem que desistiu de investir em duas refinarias, a Premium I e Premium II.
Pensei que, nesses meses, a administração da Petrobras tivesse feito um mergulho mais competente na busca dos caminhos para sair do problema onde a empresa está.