Por Letícia Lins – Do Portal Ôxe Recife – A Academia Pernambucana de Letras abre as portas, às 19h da segunda-feira (25/11), para celebrar o centenário de Maria do Carmo Barreto Campello de Melo (1924-2008). E o faz em grande estilo: com o lançamento do livro “Íntimo Idioma” (Editora Cepe), que contará com a apresentação da Orquestra de Médicos do Recife. O livro foi organizado por Sônia Bierbard que (juntamente com José Mário Rodrigues e Adriano Cabral) fará a declamação de poemas da autora que nos deixou como herança uma dezena de livros. Entre os poemas escolhidos para a apresentação estão Atentai, irmãos; O homem sitiado; e Identificação.
Os poemas serão intercalados com apresentações musicais, que se encerram com “My Way”, uma das músicas que ela mais gostava. “Íntimo idioma” possui 376 páginas e 192 poemas. Maria do Carmo nasceu no Recife, tinha formação em Letras Clássicas e Didática de Letras Clássicas, o que a levou ao ensino de Português, Latim, Literatura Portuguesa e Brasileira. Durante a carreira, escreveu uma dezena de livros: Música do silêncio I (1968), Música do silêncio II (1971), O tempo reinventado (1972), VerdeVida (1976), Ser em trânsito (1979), Miradouro (1982), Partitura sem som (1983), De adeus e borboletas (1985), Retrato abstrato (1990), Solidão compartilhada (1994), Visitação da vida (2000) e A consoada (2003). Segundo Diogo Guedes, editor da Cepe, “ao longo da vida, ela publicou reuniões e coletâneas, muitas vezes reorganizando e reescrevendo sua obra”. O lançamento será no Auditório Mauro Mota da APL, bairro das Graças, no Recife (PE).
“Sua poesia traz a tônica da confiança. Da fé, na dimensão privada; da esperança, na dimensão social. E sempre com seu modo manso de agir. O seu, não foi um tempo fácil; ela o viveu, inteira, intensa, testemunhando no canto — entre a revolta e a reserva — sua relação com o mundo”, descreve Lourival Holanda, no prefácio de “Íntimo Idioma”. Professor de Literatura, crítico literário e Presidente da APL, ele destaca que a poesia de Maria do Carmo é de quem permanece sempre na expectativa. “Na poeta tudo é pressentimento e expectação da luz”, lembra ele ao fazer uma análise pormenorizada da obra da poeta, bem como indica as preocupações e os compromissos frente a um Brasil que vivia sob o regime militar (1964-1985). Ao mesmo tempo em que possui tal consciência, a poeta é dona de uma escrita que, segundo Lourival, “não grita, susurra; e quando sonha, é olhando o mundo em torno”.
Maria do Carmo foi mãe de oito filhos e avó de 16 netos, que enxergava poesia nas coisas da alma e no cotidiano. Na Sudene, onde trabalhou, foi – por exemplo – a primeira a perceber o potencial poético João Cláudio Flávio Cordeiro da Silva, Miró, o poeta das ruas do Recife (1960- 2022). “Tive o privilégio de conviver por décadas com Carminha como nora e, depois, como mãe de seu neto Denis, que me fez admirar os abismos da criação e do estar na vida”, detalha Sônia. Paulo Barreto Campello, um dos filhos de Maria do Carmo, é um dos integrantes da Orquestra dos Médicos de Pernambuco. Maria do Carmo também foi acadêmica. Entre janeiro de 1982 e julho de 2008, ela ocupou a cadeira 29 da academia, cujo patrono é o padre Antônio Gomes Pacheco.
E era a gaiola e era a vida era a gaiola / e era o muro a cerca e o preconceito / e era o filho a família e a aliança / e era a grade a filha e era o conceito / e era o relógio o horário o apontamento / e era o estatuto a lei e o mandamento / e a tabuleta dizendo é proibido. (Maria do Carmo Barreto Campello, no poema “A gaiola”, em Íntimo Idioma, página 266)
Serviço
Lançamento do livro Íntimo idioma / Maria do Carmo Barreto Campello de Melo, com apresentação da Orquestra dos Médicos e recitação de poemas da autora com José Mário Rodrigues, Adriano Cabral e Sônia Bierbard.
Quando: 25/11/2024 (segunda-feira)
Horário: 19h
Onde: Auditório Mauro Mota da Academia Pernambucana de Letras (APL), Avenida Rui Barbosa, 1596, nas Graças, Recife (PE)Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo da família Barreto Campello e Cepe