Humor, fake e violência. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

Como bem alertou o Macaco Simão: “O Brasil é o país da piada pronta”. Verdade. E em tempos de fake news, o futebol brasileiro passou a ser povoado por centenas de humoristas, que sequer sabem que a bola tem dois lados – o de dentro e o de fora. A resultante de tal realidade não poderia ser outro senão o show de horrores protagonizado pelos novos donos da verdade, no pós eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Catar.

Na “Era da Imbecilidade”, como bem define o mestre, José Joaquim Pinto de Azevedo, que sem sempre tratou o futebol, e o desporto, de forma geral, como coisa séria, “alguns programas esportivos são grotescos”.

O problema maior do futebol brasileiro é gestão. Naturalmente que o reflexo de tal deficiência é visto no jogo jogado dentro das quatro linhas. Mas o ufanismo da grande mídia, que “vende” o circo onde a alegria do palhaço ilude a plateia, levou grandes comentaristas e jornalistas a serem preteridos. Na nova ordem é proibido tratar futebol como coisa séria.

Durante quarenta anos como jornalista esportivo, tive a oportunidade de trabalhar com muitos treinadores. De clubes amadores do Interior a Seleção Brasileira, acompanhei, de perto, o trabalho de profissionais de todos os níveis: excelentes, bons, medianos, ruins e péssimos. Defendo a tese de que, técnico ganha, e perde, jogo. Se a coisa não der certo, sua cabeça é a primeira a voar. Isto é regra.

Tite foi o nome preferido na “malhação dos judas”. A Seleção Brasileira foi desclassificada em mais uma edição de Copa do Mundo, e é preciso encontrar o culpado. “Joguem bosta no Tite. Maldito Tite!”. A palavra de ordem.

Mas antes da queda ele era lindo, a dancinha do pombo foi uma demonstração de como ele tinha o grupo nas mãos. Tudo o que ele falava reverberava como a mais pura das verdades. Pagode no ônibus, na porta do vestiário, momentos antes da decisão, não era tradução de desvio de foco, de atenção. Era a descontração dos meninos. A leitura equivocada de uma mídia movida pelo ufanismo também merece que se atire bosta, e não apenas o técnico Tite.

Perder e ganhar faz parte do jogo. A respeitada Itália, tetracampeã do mundo, sequer conseguiu se classificar para o Mundial do Catar. Alemanha, Espanha, Uruguai e Inglaterra, todas seleções com títulos mundiais em seus currículos, ficaram pelo meio do caminho. Mas, diferentemente do Brasil, nenhum desses países se afoga no ufanismo.

O humor foi o caminho encontrado para atrair a atenção de um novo público. Das novas gerações que são alimentadas por uma quantidade absurda de informações, e é capaz de formar sua própria opinião. Alguém lançou este fake no ar, e todos passaram a acreditar. As rádios e televisões exageraram na dose.

As mesas redondas onde se busca análises de profissionais com bom embasamento da matéria futebol, passaram a apresentar um humorismo grosseiro. Pior ainda: ex-jogadores guindados a condição de comentaristas, sem nenhuma habilidade no trato com as palavras, praticaram uma violência verbal assustadora.

Quando jovem, bebemorei pra valer a conquista do tricampeonato da Seleção Brasileira. No espaço de 24 anos, que separou o tri do treta, vivenciei e testemunhei inúmeras situações como torcedor, e como cronista esportivo no exercício da função. Todas as desclassificações da Canarinha doeram. Doeram muito. Mas nada é mais assustador do que a violência verbal trazida pela nova ordem.

Para a Seleção tem jeito, basta fazer uma limpeza no poder. Como já falei, o problema é de gestão.

Quanto ao resto, tudo virou piada.

Como assegura o jornalista, José Neves Cabral: “É fake!”.