Público lotou espaço que abrigou o bate-papo entre o líder indígena e Valter Hugo Mãe e fez fila do lado de fora
Uma sala com capacidade para cem pessoas não foi o suficiente para abrigar o debate entre o líder indígena Ailton Krenak e o escritor português Valter Hugo Mãe durante a Bienal do Livro de São Paulo neste sábado, penúltimo dia do evento.
Cerca de 20 pessoas, entre leitores e jornalistas credenciados, não conseguiram um lugar dentro do espaço chamado Salão de Ideias e se aglomeraram do lado de fora para tentar acompanhar algo da conversa.
Em um momento, um homem que tentava entrar no local e se sentou no chão e discutiu com seguranças que foram chamados para pedir que ele se levantasse. “Esse é um espaço democrático. É para o povo, não é?”, dizia em voz alta, antes de xingar os guardas e dizer palavrões. “Vocês são todos bolsonaristas.”
Durante a hora e meia em que durou o bate-papo, iniciado às 11h, o público reclamou com a produção do evento para tentar entrar na sala. Mesmo quando um assento era liberado, ninguém era autorizado a ocupar a cadeira. Na porta, o clima era de tensão entre os seguranças e entre o próprio público que se empurrava.
Mais seguranças chegaram para tentar organizar a aglomeração e bombeiros pediram para que os visitantes se afastassem das paredes de vidro, que poderiam quebrar, disseram. Para evitar isso, instalaram faixas interditando o entorno. Ali ao lado, em meio ao público, produtores da Bienal e bombeiros discutiam sobre a organização do evento e a confusão causada pela lotação da sala.
De dentro, Krenak brincava com aqueles que ficaram de fora, agradeceu e aproveitou para fazer uma reflexão sobre exclusão. No encontro, o líder indígena e Valter Hugo Mãe discutiram sobre os problemas ambientais e sociais do Brasil, além das raízes do país e Portugal.
Krenak, que durante a participação em um outro evento literário, no mês passado, alertou sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, não falou sobre o assunto. Mas disse que a violência foi naturalizada no país.
“Nada vai mudar enquanto admitirmos a violência”, disse Valter Hugo Mãe. “Toda vez que se comenta sobre o assassinato de um ativista, alguém vai lá e diz que aquele é um lugar perigoso. Temos que defender qualquer conduta violenta dos povos periféricos.”
O debate propunha ainda encontrar soluções para lidar com o futuro ambiental no mundo. “Se a gente conseguir extrair a violência da comunicação com os outros, teremos um espacinho para melhorar”, completou Krenak.
Na despedida, a educadora Cristine Takuá, que mediava o encontro, puxou um coro de “fora, Bolsonaro”, seguido por palmas daqueles que estavam dentro e fora da sala. Krenak e Hugo Mãe, no entanto, não participaram da manifestação política e ficaram em silêncio.
O debate que ocorreu no mesmo local logo em seguida e discutia a representatividade LGBTQIA+ ainda tinha assentos vagos.
Nos corredores da Bienal do Livro, que termina neste domingo, estandes formavam filas e alguns corredores ficaram apertados para transitar. Mas, em alguns pontos, era possível andar sem esbarrar nos outros visitantes.