Por José Paulo Cavalcanti Filho – Escritor, poeta, membro das Academias Pernambucana de Letras e Brasileira de Letras e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade
Geninha Rosa Borges, a Primeira Dama do teatro pernambucano, comemorou 100 anos bem vividos terça passada. Amiga de dona Maria Lia (que teria 96), até atuaram juntas em Princesa Rosalinda (minha mãe como dançarina), peça dirigida por Waldemar de Oliveira. Galã era o querido Reinaldo, mas essa é outra história. Certo é que decido, aqui, comemorar esse aniversário lembrando um causo que aconteceu conosco. Convidou para contracenar com ela no auditório da Cultura Francesa. Tratava-se de um monólogo em francês (já nem lembro qual), dramático, e meu papel era simples. Sem falas. Na mesinha, tomando chá, ela falaria de suas mágoas. E, eu, só escutando. Quando fizesse um sinal, lhe serviria chá. Depois, vestiria uma capa, sairia do palco e a deixaria sozinha. Não tinha como dar errado. Só que, novato no ramo, fiquei encantado com seu talento. E não prestei atenção no tal sinal. Ela parou de falar, fez mil sinais e nada. Foi quando pegou a xícara, levantou até a altura dos olhos e entregou na minha mão. Surpreso disse, em português mesmo,
– Desculpe, Geninha, esqueci.
A plateia passou cinco minutos rindo. E, eu, constrangidíssimo. Servi o tal chá e levantei, para desaparecer da cena. A indumentária foi providenciada por Maria Lectícia. Uma capa de chuva Burberry, com 28 botões. Só que estavam atacados, todos. Tive que ir desabotoando, um por um. O tempo correndo e Geninha esperando minha saída. Só que o público desatou a rir, de novo, agora por conta da minha angústia. E senti que deveria me justificar.
– Os senhores por favor desculpem, mas a culpa é de dona Lectícia (apontei), que deveria ter me entregue essa capa já pronta.
Foi pior. A plateia trocou risos discretos por gargalhadas. Até que vesti, me despedi da atriz com uma reverência e saí de cena. Para que Geninha pudesse continuar sua trágica história. No fim do espetáculo, fui falar com ela.
– Geninha, desculpe. Não subo de novo, num palco, até o fim da vida.
– Faz bem, Zé Paulo. Faz muito bem.
E, agora, quem começou a rir foi ela. Por tudo então, pelo que representa para o teatro brasileiro, e para nosso orgulho enorme, viva Geninha.
Para sempre. Viva Geninha! Viva, Geninha!