O romancista e advogado José Paulo Cavalcanti desconfia que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), possa interferir nos resultados das eleições deste ano devido a sua atuação no inquérito das supostas fake news. A declaração foi dada em entrevista à Rádio CBN Recife, na segunda passada.
“Eu trabalhei com Barroso e confio integralmente, mas alguém pode dizer que Alexandre de Moraes, o
xerife dessa eleição, de noite, não é capaz de abrir a sala do TSE, com técnico de computador e fazer alguma coisa? Como não tem auditagem, não tem como fazer isso. Alguém acha que a chance de Alexandre de Moraes fazer isso é zero?”, disse o membro da Academia Brasileira de Letras.Ex-ministro de Justiça no governo do presidente José Sarney, Cavalcanti argumentou que a ação de Moraes no inquérito das fake news, para ele, o torna suspeito. Para ampliar o leque de investigação, o ministro se utilizou do artigo 43 do Regimento Interno do STF para investigar supostos ataques contra o Tribunal.
De acordo com o dispositivo, o Supremo é autorizado a investigar fatos que ocorrem dentro das dependências da Corte. No inquérito, entretanto, esse entendimento foi alargado para o país. “Alexandre advoga a seguinte tese: dentro do Supremo é tudo que exista fisicamente no Supremo ou que entre no Supremo. Por exemplo: Se você fala na televisão, esse televisor está dentro do Supremo, então é no Supremo. Se você fala no rádio, como tem um radinho de pilha no Supremo, então foi dentro do Supremo. Como você escreve no jornal e o jornal é distribuído no Supremo, é dentro do Supremo. Se você falar em uma conversa e for do Supremo, então é dentro do Supremo. Tudo é dentro do Supremo”, explicou Cavalcanti.
O advogado também criticou a postura dos outros ministros, da OAB, da imprensa e do Congresso Nacional por não se posicionarem contra as medidas de Moraes. “O que mais me espanta é o silêncio cúmplice ao derredor. As federações dos jornalistas caladas. Os sindicatos dos jornalistas e as federações caladas. A Associação Brasileira de Imprensa, se você pisar em uma folha na Amazônia, vai reclamar. A OAB, em tantas defesas das nossas tradições, calada. O Congresso calado. E pior do que isso: todos os ministros do Supremo sabem que é ilegal e todo mundo calado. Eu fico meio perplexo”, alegou.
Ele também defendeu a auditoria das urnas eletrônicas, sistema que é seguido por outros países do mundo, menos pelo Brasil. “Nos anos 90, o mundo entendeu que era necessário atualizar o sistema. Então criaram as urnas eletrônicas, primeira geração. O sistema era conhecido como DRE – Direct Record Eletronic. O Brasil fez a sua em 1996. Com o tempo, os países foram percebendo que era preciso comprovar os graus de confiabilidade das urnas. A partir de 2009, todo os países estabeleceram algum sistema referencial. É preciso auditar essas urnas”, afirmou o escritor.