Brizola 100 anos – A verdade sobre a o origem do “sapo barbudo”. Por  José  Nivaldo  Júnior

Por  José  Nivaldo  Júnior  – Consultor em comunicação, advogado, historiador, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. 

Brizola era um mestre na arte de botar apelidos e criar carimbos. Ele era, como digo no AGORA É FINDI de hoje, o seu próprio marqueteiro.

Brizola improvisava magistralmente. Em 1982, na sua primeira eleição para Governador do Rio de Janeiro, no debate da Globo, chamou o oponente Moreira Franco, jovem mas já com a cabeleira bem grisalha, de Gato Angorá. Pegou até hoje.

Em 1989, na campanha presidencial, chamou Fernando Collor de filhote da ditadura. Collor ganhou, subiu a rampa do Palácio do Planalto, o apelido subiu junto.

O mais famoso dos seus apelidou perseguiu Lula durante muitos anos: ” Sapo Barbudo”. No segundo turno de 1989, nas eleições presidenciais de 1994 e 1998, Lula foi castigado por ele. Volta e meia, alguém chacoalhava: como diz Brizola …

O QUE BRIZOLA REALMENTE DISSE

Foi um momento muito doloroso nas nossas vidas. Brizola largou na campanha presidencial como favorito. Era o líder das pesquisas. Até ser atropelado pelo fenômeno Fernando Collor e passar para o segundo lugar. A distância não era grande. Era tido como certo no segundo turno. Mais de 10 candidatos disputando, a maioria do campo progressista. A tendência era que esses votos, de Lula, Ulisses Guimarães, Mário Covas, principalmente, viessem para Brizola. Ele mesmo se acomodou um pouco, confiando no que todo mundo dizia: no segundo turno Brizola ganha de lavada.

EIS QUE…

Seguia a apuração conforme o figurino, Collor em primeiro, mas não muito longe, Brizola em segundo. Lula nos calcanhares, mas em nenhum momento ameaçando ultrapassar.

Eis que, por uma dessas armadilhas da História, que são “teoria da conspiração” mas existem, a apuração em Minas Gerais travou. Travou, parou a contagem, o que houve o que não houve, virou a noite, virou o dia, nada. Quando voltou, dias depois, Lula tinha recebido uma avalanche de votos, por coincidência nas urnas paralisadas. Totalmente diferente da cantiga das urnas, no país e na própria Minas Gerais. Passou Brizola por um cabelinho de sapo, sem trocadilho, e foi para o segundo turno.

VÃO ENGOLIR

Perplexidade geral. A grande expectativa era como Brizola reagiria. Ele já tinha sido vítima de uma tentativa de fraude armada, entre outros, pelo Ibope e pela Rede Globo, na eleição do Rio, em 1982. Desmontou a fraude graças a uma combatividade sem limites e com o apoio de empresas da tecnologia do computador, então nascente.

Esperava-se que ele partisse com tudo para desmoralizar a armação. Mas não. Para aumentar a perplexidade ele convocou a imprensa. Fez da pequena escadaria de acesso ao seu edifício um palanque improvisado. Eu estava colado no seu ombro, privilegiado papagaio de pirata. Deve existir um registro fotográfico do momento nos arquivos de algum jornal. Ouvi perfeitamente e lembro claramente a frase que ele disse, após anunciar apoio a Lula: ” Vamos fazer a burguesia engolir esse sapo barbudo”.

No outro dia, a manchete foi: Brizola chama Lula de Sapo Barbudo.

Fica o reparo para algum historiador detalhista. Registro de uma testemunha ocular e auricular, com boa memória, ainda, apesar de 32 anos terem se passado.

O DESFECHO

Para os íntimos, Brizola justificou sua decisão de aceitar a fraude sem reagir. Argumentou que uma briga pela vaga, naquele momento, fragilizaria a esquerda, criaria ressentimentos, era fazer o jogo da direita.

Mais uma prova da grandeza com que enxergava a política.

Ele, mesmo com as ressalvas que fazia a Lula, se empenhou no segundo turno com uma disposição que não teve consigo mesmo no primeiro turno.

Transferiu para Lula cada um dos sufrágios das estrondosas votações que tinha alcançado no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Fazendo jus ao slogan, que adotei mas alguém criou, “Quem conhece Brizola, vota em Brizola”.

Foi a vez de Lula sofrer sabotagens. Perdeu.

No ano seguinte, Brizola teve, na eleição para governador do Rio, uma das maiores votações percentuais de todos os tempos.

Na festa da posse, Fernando Lyra, Marcelo Teixeira e eu estávamos lá. Desse momento glorioso, tenho o registro fotográfico.