Carlos Newton
Da mesma forma como o fabuloso jogador Pelé foi eleito o Atleta do Século por antecipação, em 1980, vinte anos antes de passarmos para o século XXI, por haver a certeza de que, no mundo esportivo, não surgiria nenhum outro que se pudesse comparar a ele, agora acontece a mesma coisa com relação à Piada do Ano, o disputadíssimo troféu de imbecilidades, cobiçado no Brasil por governantes, políticos, empresários e destacadas personalidades civis e militares.
Antes mesmo da virada do ano, o troféu foi concedido por unanimidade e consenso geral ao procurador Lucas Furtado e ao ministro Bruno Dantas, do TCU, que abriram investigações sobre atos de corrupção que teriam sido cometidos pelo ex-juiz Sérgio Moro.
SOBRENOMES PERFEITOS – Fazendo jus ao sobrenome, o procurador Furtado roubou a cena, porque a ideia da piada foi exclusivamente dele, embora o ministro Dantas também tenha feito jus a seu sobrenome, ao se comportar igualmente “como uma anta”, como se diz desde os tempos saudosos da autoproclamada presidenta Dilma Rousseff, que fez por merecer o apelido de “presidanta”.
O procurador Furtado também não se furtou de antecipar explicações sobre seu proceder, em entrevista ao site Conjur em 23 de agosto de 2020. Disse ele, explicando seu modo de agir:
“Me conferi esse papel de atuar como uma ponte entre a investigação efetuada pela imprensa e o TCU. Se há mérito ou demérito nessa minha atuação, atribuo isso à própria imprensa. Minha função é simplesmente levar essas demandas adiante para que não caiam no vazio como no passado. Não deixo cair. Investigo qualquer denúncia publicada pela imprensa desde que contenha o mínimo de elementos que justifiquem um procedimento no meu campo de atuação“, justificou-se
GRANDES PIADAS – Como se vê, o procurador Furtado faz uma piada atrás da outra. Esse papel de “fazer uma ponte entre a investigação efetuada pela imprensa e o TCU”, por exemplo, é uma anedota da melhor qualidade.
Demonstra que até mesmo no Judiciário ainda há quem acredite no que a imprensa divulga em seu noticiário político e econômico, que é sempre manipulado de um lado para o outro, de acordo com as conveniências dos donos dos chamados órgãos de comunicação.
A respeito dessa crença do procurador, Padre Quevedo diria, revoltadíssimo: “Isso non ecziste”. Aliás, aqui na Tribuna da Internet a gente acredita tanto na imprensa que criamos até uma “tradução simultânea”, para que as pessoas raciocinem com mais clareza sobre as notícias da política e da economia, para ver se há alguma intenção por trás daquelas palavras.
FURTADO ENTROU… – O procurador Furtado esqueceu de fazer a tradução simultânea e ficou roubado no lance, como dizem os locutores esportivos. A motivação da imprensa, ao denunciar Moro como “protetor” da recuperação da Odebrecht, mostra ser claramente política.
Se o juiz Moro tivesse absolvido a Odebrecht, a iniciativa do TCU até faria sentido, o ex-juiz estaria se beneficiando de decisão tomada antes. Mas aconteceu exatamente o contrário. Como magistrado, Moro atuou corajosamente para desbaratar o maior esquema de corrupção já implantado no mundo, e a Odebrecht era uma das empreiteiras beneficiadas. Estava tão envolvida na corrupção que chegou a criar e manter um “departamento” exclusivamente para administrar propinas a centenas de políticos.
Moro atuou para destruir tudo isso. E a pergunta que resta é a seguinte: Na Alvarez & Marsal, o que o ex-juiz poderia fazer para “ajudar” a Odebrecht? Nada, absolutamente nada. Aliás, a empreiteira continua quebrada, embora seus donos permaneçam bilionários, como é comum no Brasil, sem que procuradores, ministros e tribunais se preocupem com essas distorções.
DISSE MORO – Em sua defesa, Sérgio Moro disse algumas verdades nas redes sociais: “Trabalhei 23 anos na carreira pública. Lutei contra a corrupção neste país como ninguém jamais havia feito. Deixei o serviço público e trabalhei honestamente no setor privado para sustentar minha família. Nunca paguei ou recebi propina, fiz rachadinha ou comprei mansões”, publicou nas redes.
Esqueceu de dizer que jamais comprou imóveis em dinheiro vivo, nunca lavou dinheiro em loja de chocolate, não levou parentes e amigos para passear em jatinho da FAB nem criou emprego altamente remunerado para uma amante e lhe deu um cartão corporativo, com direito a viajar 34 vezes ao exterior, clandestinamente e ganhando diárias em dólar…
Esqueceu também de dizer que não tem contas bancárias em paraísos fiscais, para obter lucro cada vez que a moeda brasileira cai de cotação, por imperícia do governo… Realmente, esqueceu muita coisa.