Não é só um problema moral, o debate sobre combate à corrupção qualifica as eleições

Ao contrário do que se esperava, em 2019 o Planalto não apoiou combate à  corrupção - Flávio Chaves

Charge do Ivan Cabral (Arquivo Google)

Carlos Pereira
Estado

Alguns têm argumentado que a entrada de Sérgio Moro na corrida presidencial traria novamente o tema do combate à corrupção para o centro do debate público, o que supostamente seria contraproducente, diante de problemas mais urgentes a serem enfrentados pelo Brasil, como desenvolvimento econômico, inflação e inclusão social.

É como se o combate à corrupção fosse eminentemente um problema moral e não houvesse correlação entre os resultados de políticas econômicas e sociais e comportamentos predatórios de governantes.

CONTROLES RIGOROSOS – Entretanto, como mostro no quarto capítulo do livro “Making Brazil Work: Checking the President in a Multiparty System”, os governos que vivem em ambientes politicamente competitivos, sob fortes restrições de organizações de controle robustas e independentes, apresentam melhor desempenho econômico e social do que governos não controlados.

Essa pesquisa analisou o impacto da robustez institucional das organizações de controle (tais como governança das agências reguladoras, atuação dos tribunais de contas, eficiência e independência do Judiciário e do Ministério Público, controle dos meios de comunicação pelos políticos etc.).

Foi estudada também a competição política em um conjunto de dimensões que mensuram o desempenho das políticas públicas nos Estados, como por exemplo, déficit primário, gasto com servidores públicos, eficiência do gasto público e até a variação da riqueza dos políticos.

CONCLUSÃO ÓBVIA – Os resultados indicam que competição política só é virtuosa quando as organizações de controle são robustas e independentes.

Fica claro que a qualidade institucional das organizações de combate à corrupção restringeria efetivamente a propensão histórica de governantes brasileiros, que tendem a incorrer em déficit primário e aumentar os gastos com servidores, especialmente por meio de novas contratações em anos eleitorais.

Os resultados também mostram que, diante de organizações de controle fortes e independentes, a eficiência do gasto público melhora substancialmente, além de haver um menor crescimento da riqueza dos políticos.

IMPACTO VIRTUOSO – Ou seja, freios e contrapesos robustos geram um impacto virtuoso no comportamento de governantes. Tanto a oferta de bens públicos aumenta, como também há uma diminuição de bens privados e de corrupção.

Portanto, o debate sobre combate à corrupção decorrente do fortalecimento das organizações de controle é ancilar aos demais temas considerados prioritários e deveria ser privilegiado por qualquer candidato que pretenda disputar a Presidência em 2022.