Pedro do Coutto
Em manifestação pública no Parque das Exposições, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro, caminhando ao lado de Paulo Guedes, deu total apoio a sua permanência no Ministério da Economia e, com isso, desistiu de trabalhar a sua popularidade para as eleições presidenciais de outubro de 2022. O ministro Paulo Guedes é de longe a figura mais impopular do governo e que, por sua vez, sofre uma rejeição de 53% do eleitorado, como revelou a pesquisa do Datafolha.
Jair Bolsonaro afirmou que Paulo Guedes seguirá até o final de seu governo e acrescentou: ” vamos sair juntos”. Excelente reportagem de Mariana Muniz, Eduardo Gonçalves, Naira Trindade e Manoel Ventura, O Globo desta segunda-feira, destaca fortemente o episódio de Brasília, nitidamente elaborado pelo próprio presidente da República. Aliás, foi mais um gesto arquitetado por Bolsonaro em favor de Paulo Guedes, mas o primeiro após o pedido de demissão de quatro secretários, inclusive do Tesouro e da Receita Federal.
RESPONSABILIDADE – Paulo Guedes, ao longo da caminhada de domingo, decidiu atribuir ao Congresso, mais explicitamente ao Senado, a responsabilidade pela aprovação de reformas que considera estruturais e fundamentais para a Economia do país. O principal alvo de Paulo Guedes foi o senador Rodrigo Pacheco. Enquanto isso, no jornal das 13h de ontem, Maria Júlia Coutinho anunciou na TV Globo mais uma aumento de preço tanto da gasolina quanto do óleo diesel.
Na minha opinião, o reflexo do custo de vida será inevitável. E o custo de vida está pressionando até a fome de grande parcela da população. O Fantástico de domingo colocou no ar uma reportagem sobre pessoas em estado de miséria que recorrem ao caminhão de lixo para buscar alimentos. A imagem, que repete uma cena registrada em Caracas há alguns meses, causou forte choque na opinião pública, com impacto social dos mais fortes. Bolsonaro fez questão de falar a jornalistas em Brasília para dizer que ele e Paulo Guedes só sairão juntos do governo.
Tendo, como é evidente, desistido de melhorar a sua imagem junto à opinião pública, a atitude de Jair Bolsonaro, sem dúvida, se reflete na hipótese que Elio Gaspari levantou no O Globo e na Folha de S. Paulo de domingo de desistir da reeleição para tentar uma cadeira no Senado ou na Câmara Federal. Caso se concretize, na minha opinião, o novo rumo traçado por Bolsonaro, acende-se o sinal para o que seria uma terceira via na sucessão de 2022.
DIFICULDADES – Vejam só os leitores como são as coisas da política. Numa entrevista a Marlene Couto, O Globo de segunda-feira, o ex-senador Pedro Simon falou longamente sobre a dificuldade de uma terceira via. Mas, se Bolsonaro desistir da reeleição, surgem no cenário, além de Lula da Silva, franco favorito, a candidatura de Ciro Gomes, João Doria e Sergio Moro, embora quanto ao ex-juiz as dificuldades sejam maiores.
Não estou com a colocação deste ângulo querendo dizer que Bolsonaro vá desistir, não acho provável. Considero apenas possível diante do quadro que se desenha no país. O ministro Paulo Guedes na caminhada ao lado de Bolsonaro em Brasília declarou que confia na aprovação pelo Congresso da Reforma Administrativa que inclusive muda o regime de contratação de servidores públicos. Sustentou que a aprovação da Reforma proporcionará uma economia de R$ 300 bilhões em 10 anos. Nesse ponto foi mais modesto do que quanto à economia que referiu de R$ 1 trilhão numa década em consequência da aprovação da Reforma da Previdência.
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – A economia de R$ 1 trilhão em uma década transformou-se em um sonho de uma noite de verão, como disse o poeta. Paulo Guedes é um delirante que em 30 meses de governo tornou-se uma figura emblemática em matéria de indecisões e medidas impopulares que só funcionam para que Bolsonaro perca votos no eleitorado.
É o caso dos precatórios, cujos pagamentos ele quer adiar, não considerando que se tratam de dívidas configuradas há mais de trinta anos. Assim, os titulares dos créditos esperam três décadas para receberem os seus direitos e aparece um ministro que ainda pretende adiar ainda mais os pagamentos que o passar do tempo em muitos casos desloca os créditos do titulares para os seus herdeiros legais.
Paulo Guedes, vejam só, criticou Rodrigo Pacheco também por não colocar em votação o projeto que modifica a lei do imposto de renda. Com a modificação, Guedes absurdamente assegura um crescimento de 5% no Produto Interno Bruto do país. De onde ele buscou a base lógica para tal conclusão ? Por essas e outras é que Paulo Guedes só é levado a sério pelo presidente Bolsonaro.
TRISTE EPISÓDIO – Muito bom o artigo de Ana Cristina Rosa, Folha de S. Paulo de segunda-feira, sobre o triste episódio de um grupo de pessoas famintas recorrendo ao lixo em busca de algo para comer.
Lembra Ana Cristina Rosa que o Brasil é um dos maiores produtores de grãos do mundo, entre eles a soja, o arroz, o milho, a cevada, tem o maior rebanho bovino e suíno do planeta e sua população passa fome e diariamente vive à espera nao da chegada de transporte, mas do caminhão do lixo em busca de sobreviver.
NOVO FORMATO – Na edição de domingo, José Henrique Mariante, Ombudsman da Folha de S. Paulo, comentou a mudança do formato das edições do Estado de S. Paulo, transformações iniciadas a partir de 17 de outubro. O jornal, órgão tradicional da imprensa brasileira, reduziu o tamanho de suas edições em praticamente 30%, ficando entre o tamanho normal do O Globo, da Folha e do Valor, e a dimensão de um tablóide, como foi o caso da Zero Hora de Porto Alegre.
O jornal é um dos quatro mais importantes do Brasil. Mas acho que o seu encolhimento não foi positivo. Nem para os leitores de muitos anos, assim como eu, ou para a própria empresa. Neste caso, consequência do espaço publicitário que encolheu. O que acho tem base numa coisa muito simples. A visão horizontal é muito mais importante e agradável do que a visão vertical. Veja-se, por exemplo, as telas dos cinemas, as modernas telas dos aparelhos de televisão, a beleza de pinturas clássicas e eternamente admiradas e as imagens fixadas em cartões postais.
Em muitos casos, inclusive, cartões de Natal reproduzem quadros famosos. Mas devo acrescentar a esse elenco de fatos as fotografias de praias, vales, lagos, rios, mares, paisagens, enfim , do mundo todo. São mais belas na visão horizontal do que numa limitada visão vertical. A ideia da largura é para mim essencial no sentido de valorizar e tornar mais agradáveis as imagens registradas. Quanto ao texto, acho que os editoriais num espaço menor que o ocupado anteriormente pelo Estadão perdem um pouco o interesse que tradicionalmente despertavam nos leitores.