AGRESSÕES NÃO SÃO “BARBÁRIE”. SÃO CIVILIZAÇÃO. Por  José  Nivaldo  Júnior

 Por  José  Nivaldo  Júnior  – Consultor em comunicação, advogado, historiador, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. 

Basta de estupidez. Basta de canalhice. Basta de ignorância. Basta de arrogância. Vasta de usar a palavra “barbaridade” como sinônimo de coisas negativas, na maioria das vezes cruéis e violentas. Isso é um absurdo que os nossos dias não devem mais aceitar. O termo “barbárie”, como sinônimo de violência, se popularizou no Ocidente com queda do Império Romano, no século V.

BÁRBAROS NÃO FALAVAM LATIM
Os romanos chamavam de “bárbaros” todos os que não falavam latim (bárbaro, de balbuciar, ou seja, usar uma língua semelhante ao falar de uma criança).
Termo que vinha de antes, carregado de preconceitos.
Quando os romanos invadiam as aldeias “bárbaras”, aprisionavam os homens, estupravam as mulheres, escravizavam as crianças, roubavam as riquezas, incendiavam as aldeias, consideravam isso “civilizar”.

ATRASO E VIOLÊNCIA
Quando os povos oprimidos se rebelaram (entre eles os Vândalos, daí “vandalismo”, outro termo equivocado de origem preconceituosa) invadiram Roma, mataram, estupraram, saquearam, ou seja, devolveram as agressões sofridas, isso foi uma “barbaridade”.
Com o tempo, o termo foi sendo usado como sinônimo de atraso e violência.

“SOCIALISMO OU BARBÁRIE”
Até que no século XX , intelectuais de esquerda, equivocadamente, preferiram uma frase de impacto ao respeito à História. E criaram o falso confronto “Socialismo ou Barbárie”. Uma aberração histórica que só poderia resultar no fracasso que aconteceu.

VOLTA DO TERMO COM PANDEMIA
Hoje, nas narrativas sobre a pandemia em curso, estão muitos novamente usando “barbárie” como sinônimo de retrocesso, abuso, violência, discriminação , preconceito, ameaça. Coisas típicas da CIVILIZAÇÃO. Nunca dos BÁRBAROS cujas relações internas eram e são pautadas pela solidariedade e pela harmonia.

PALAVRAS TRAZEM MAIS PRECONCEITOS
Sei que não é fácil. Mas gosto de abraçar causas que parecem impossíveis. Minha proposta:
Vamos evitar o termo “bárbaro” usado com essa conotação, a exemplo de outros como “judiar”, “denegrir” “causa nobre” e tantos mais que ajudam no dia-a-dia aos inconscientes coletivos perpetuarem preconceitos.
Existem poucos bárbaros hoje em dia para defender o seu legado. Mas se possível, vamos evitar.

LUTA DESIGUAL
Como nada em homenagem aos últimos autênticos bárbaros dos nossos dias, entre os quais as tribos indígenas brasileiras, os nossos bárbaros, que resistem e sobrevivem a duras penas em harmonia consigo mesmo e com a natureza, enfrentando a luta desigual contra a ilimitada violência do “progresso” e da “civilização”. Ou seja, da verdadeira barbárie.

* Historiador e Membro da Academia Pernambucana de Letras