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“Perguntar por que você sobreviveu não te ajuda a sobreviver”
Quem já leu publicações minhas mais antigas ou acompanha o Ju Entre Estantes no Instagram sabe da minha admiração pela autora Jeannette Walls (mais conhecida pelo livro “O castelo de vidro”, que virou filme em 2017).
“A estrela de prata” é seu terceiro livro e o primeiro romance, mas tem alguns aspectos semelhantes com “O castelo de vidro” e “Cavalos partidos”. O primeiro, o mais conhecido, é sua autobiografia; já o segundo conta a história de sua avó – e o ponto alto é que é escrito em primeira pessoa, como se fosse a própria contando.
Dos três, o único que ainda não tinha lido era essa ficção sobre as irmãs Bean e Liz. Apesar de não ter se tornado um de meus favoritos dela é uma história que vale a pena ser lida.
A HISTÓRIA EM POUCAS LINHAS – Em 1970, duas irmãs de pais diferentes e ausentes, Bean e Liz, estão prestes a começarem uma jornada sozinhas, quando se veem temporariamente abandonadas pela mãe. Isso as leva à terra natal de sua família, onde vão descobrir histórias do passado da mãe e enfrentar muitos desafios e inimigos sem rosto, como a crueldade, o preconceito e a hipocrisia.
FRASES CURTAS – Como sempre, a escrita de Walls é impecável. Capítulos rápidos, diálogos envolventes e personagens cativantes – e outros detestáveis – tornam a leitura uma experiência agradável. Mas, além disso tudo, o maior destaque em seus livros são as frases curtas.
Escrevendo dessa forma, ela presenteia o leitor com clareza e objetividade, sem fugir de detalhamentos necessários. Assim, mesmo se tratando de um drama, a leitura não é densa ou cansativa e os diálogos e acontecimentos deixam a trama dinâmica e, quando percebemos, já estamos terminando de ler.
Tal característica é marca registrada da autora, e pode ser conferida nos outros dois livros também – por sinal, ambos excelentes! (falarei deles ao final do texto).
CONTEXTO HISTÓRICO – O ano é 1970 e os Estados Unidos estão em conflito com o Vietnã e finalizando o processo de integração racial.
Os cenários e o contexto são muito bem descritos e, junto às irmãs, mergulhamos nas tensões da integração de brancos e negros numa cidade do interior dos EUA (todas elas presenciadas por Bean e Liz).
Discussões acaloradas entre moradores, brigas de alunos no colégio local e muitas outras situações mostram o comportamento de alguns cidadãos após as leis dos Direitos Civis (de 1964) e do Direito ao Voto (de 1967) encerrarem a segregação institucionalizada, garantindo direitos iguais sem discriminação baseada em raça.
Ao longo de tantos acontecimentos sociais e pessoais, as duas personagens principais se tornam muito queridas para quem lê, e acabamos compreendendo seus sentimentos e torcendo para que consigam superar tanso obstáculos e decepções.
COMPARAÇÃO INEVITÁVEL – Como eu já tinha lido “O castelo de vidro” e “Cavalos partidos”, no início foi difícil não fazer comparações com ambos e principalmente com o primeiro. Isso porque, conforme comentado em tópicos anteriores, trata-se de sua autobiografia, e tem tudo a ver com abandono materno e negligência durante a infância. É um livro fantástico, que também recomendo muito!
De modo geral, a “A estrela de prata” vale a pena ser lido, principalmente para quem quer ou precisa de uma leitura fluida. Este, contudo, não chega aos pés da intensidade de “Castelo de vidro” e “Cavalos partidos”.
Concluindo, acredito ser realmente impossível não se encantar com as obras da autora, então será inevitável ler os três livros!
Livro: A estrela de prata
Autora: Jeannette Walls
Editora: Globo Livros
Páginas: 256
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ALGUNS TRECHOS
– “Mamãe sempre falava que o segredo do processo criativo era encontrar a magia. Isso, ela dizia, era o que você tinha que fazer na vida. Encontrar a magia”.
– “Nós três éramos tudo de que precisávamos, mamãe dizia. Mas isso não a impedia de sair”.
– “Verdade seja dita: mamãe tinha um temperamento daqueles e era dada a ataques quando as coisas saíam de seu controle. As crises costumavam passar rapidamente, e então continuávamos nossa vida como se nada tivesse acontecido”.
– “Acho que mamãe acredita nisso, o que não quer dizer que seja verdade. Talvez ela só precisasse de alguém para culpar pela maneira como tudo deu errado”.
– “Perguntar por que você sobreviveu não te ajuda a sobreviver”
– “Então se comporte como uma mãe, para variar. A gente não estaria nessa enrascada se você tivesse agido como uma mãe desde o princípio”.
– “Vai dar tudo certo. Quer que eu vá com você?”
– “Você viria?”
– Claro, sua maluca. Estamos juntas nisso”.
– “A maior parte das vezes que uma pessoa pede conselho, ela já sabe o que deve fazer. Ela só quer ouvir outra pessoa dizendo o que ela já sabe”.
– Então, ela se virou para me abraçar. Fiquei surpresa com a raiva que eu estava sentindo dela. “Onde você esteve esse tempo todo?”, eu queria perguntar. Mas não falei nada e a abracei também.