Reaproximação de Bolsonaro com PSL abre caminho para o diálogo entre alas rivais na legenda

Bolsonaristas querem que PSL derrube a suspensão dos deputados

Guilherme Caetano
O Globo

A reaproximação entre Jair Bolsonaro e o PSL deu gás a uma articulação interna entre os grupos rompidos. O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, incumbiu o deputado federal Felício Laterça (RJ) de ouvir os deputados bolsonaristas e tentar fechar as feridas abertas desde 2019. Laterça foi escolhido por Bivar por ter se indisposto menos com o grupo de Carla Zambelli, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Bia Kicis, Daniel Silveira e companhia.

Os principais nomes da chamada “ala bivarista”, como os deputados federais Júnior Bozzella e Joice Hasselmann e o senador Major Olimpio, estão insatisfeitos com a reaproximação. Eles foram os mais atacados pela militância bolsonarista após o rompimento de Bolsonaro.

RECONCILIAÇÃO – “Minha missão é entender o sentimento geral e aplacar os ânimos. Amanhã se a gente entender que é benéfico termos de novo do presidente conosco novamente, tudo bem. Mas uma coisa é ter o presidente de volta. Outra coisa é ter os deputados bolsonaristas”, diz Laterça.

A principal solicitação do grupo de Bolsonaro é que o PSL derrube a suspensão dos deputados alinhados ao presidente. A ala mais ideológica confia também que Luciano Bivar possa interferir na eleição de São Paulo, tirando Joice Hasselmann da disputa pela Prefeitura e colocando um nome mais simpático a Bolsonaro.

Um interlocutor do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o mais cotado pelos bolsonaristas para a vaga de Joice, diz que “agora os dados estão lançados”. O parlamentar se reuniu recentemente com Bozzella, que é presidente do PSL paulista e aliado da atual pré-candidata à Prefeitura, para defender sua candidatura. O PSL ainda não bateu o martelo.

SEM MUDANÇAS – A ala bivarista, no entanto, se mostra descrente de que o “namoro reatado” renda frutos para os deputados que brigaram para sair do partido e ajudar a construir o Aliança pelo Brasil. Na semana passada, Joice Hasselmann deu indicativos de que o PSL está disposto a ter apoio de Bolsonaro sem precisar mexer na candidatura em andamento. Ela afirmou, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, ser a melhor candidata para ser apoiada por Bolsonaro.

Ao O Globo, Joice afirmou que se o presidente quiser “resgatar as bandeiras com as quais foi eleito, será bem-vindo”. Mas disse que a reaproximação foi iniciativa exclusiva de Bolsonaro. “O que não queremos é alguém que venha gerar mais divisão. Sempre defendi as bandeiras lavajatistas e do governo. Quem desvirtuou isso no meio do caminho foram os bolsonaristas”, declara.

TAPETÃO – A pré-candidata do PSL também disse que a reaproximação tem que ser feita “com respeito, e não no tapetão”, referindo-se à tentativa dos bolsonaristas de emplacar o nome de Orleans e Bragança ao pleito, em seu lugar.

Questionado se essa reaproximação tem vistas a uma candidatura de Bolsonaro a reeleição em 2022, Felício Laterça afirmou que a ideia é incipiente, mas defende que nenhuma outra sigla se encaixa melhor ao presidente que o PSL. “Qual partido que não sente a saída do presidente da República? Eu acho possível (Bolsonaro concorrer à reeleição pelo PSL). Nenhum outro partido tem a estrutura do PSL na direita”, diz ele.

Jair Bolsonaro disse, em reunião convocada por ele mesmo com deputados do PSL na última quarta-feira, que só discutirá o eventual retorno ao partido após a eleição à presidência da Câmara dos Deputados no início do ano que vem. “O PSL já fez o mais importante que nós pedimos, que é o compliance, a transparência nas contas”, afirma Bibo Nunes (RS) sobre a possibilidade de pacificação na sigla.

FILIAÇÃO – Segundo Bibo Nunes, Bolsonaro deixou claro na reunião que não quer influenciar nem nas eleições municipais, nem na eleição para a presidência da Câmara. Por isso, só depois deve discutir a filiação a algum partido. Bivar e Bolsonaro se desentenderam no segundo semestre do ano passado, levando a um racha no partido. A bancada na Câmara se dividiu entre aliados de cada um dos dois e Bolsonaro organizou a criação da sua própria legenda, o Aliança pelo Brasil, que ainda não saiu do papel.