Por Sonia Zaghetto* – O Grupo Globo acaba de comunicar ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, que seus profissionais não mais farão plantão na saída do Palácio da Alvorada. Alega falta de segurança para os jornalistas.
Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro são colocados diariamente lado a lado com os jornalistas, apenas com uma grade entre os dois grupos. E têm insultado de forma cada vez mais agressiva os profissionais de imprensa (de todos os veículos), que estão ali trabalhando, sem que haja providências por parte das autoridades.
É mais um capítulo da agressão ao jornalismo no Brasil. Essa guerra surda que ganha adeptos o tempo inteiro. Nas últimas semanas jornalistas já levaram socos, murros e pancadas na cabeça usando mastro de bandeira, além dos palavrões de sempre. Tudo diante da expressão divertida do presidente da República, que visivelmente apoia a violência e muitas vezes a incita.
Bolsonaro não quer imprensa livre e o vídeo do dia 22 bem demonstra isso. O que ele entende por liberdade de expressão não sei o que vem a ser, mas certamente não inclui os jornalistas, alvo de seu ódio diariamente e das ameaças de cassação das concessões.
Hoje Bolsonaro declarou que sua imagem ruim no exterior ocorre porque a imprensa internacional é de esquerda, embora sofra críticas de veículos de direita ou liberais. Hoje, por exemplo, o jornal inglês Financial Times publicou um artigo intitulado “O populismo de Jair Bolsonaro está levando o Brasil ao desastre”, relembrando as demissões de dois ministros da Saúde em meio à pandemia e a mudança no protocolo da cloroquina.
A comunicação social do governo federal nunca foi tão amadora. E piora a olhos vistos. Após a saída de Luiz Henrique Mandetta, os releases da Secretaria de Comunicação da Presidência e os do Ministério da Saúde se tornaram a vergonha do jornalismo oficial. Retira-se do lead (o primeiro parágrafo de um texto jornalístico) e dos títulos das matérias o número de mortos. As estatísticas por Estados também são encontradas com mais dificuldade. Felizmente todos os veículos de comunicação do Brasil oferecem serviços diários com as estatísticas atualizadas e citando fontes seguras. Com isso, o governo perde protagonismo na divulgação dos números da crise. A opção por dar “boas notícias” poderia ser feita com muito mais competência, sem escorregar nos erros primários que vêm ocorrendo. Mas a censura é visível e a ideologia sufoca a técnica.
Curioso é que tudo isso ocorre com o apoio daquele povo que se arrepiou todinho quando Hugo Chavez estrangulou a imprensa livre na Venezuela, e que simulava desmaio ao pensar na imprensa oficial amordaçada nos países comunistas.
Todo projeto autoritário adora censurar a imprensa. No Brasil, os jornalistas foram calados no regime militar, atacados fisicamente e com tentativas de regulação da mídia nos governos de Lula e Dilma e agora continuam a ser hostilizados pelos bolsonaristas. Nunca termina, pois a ideia não é combater algum excesso do jornalismo. É calá-lo mesmo. E de forma truculenta, como é costume entre fanáticos.
* Jornalista e Escritora