Juliana Castro e Vera Araújo
O Globo
O Ministe?rio Pu?blico Federal (MPF) aponta que o grupo do empresário Mário Peixoto, preso na operação Favorito, deflagrada nesta quinta-feira, buscou usar a pandemia do novo coronavírus para expandir seus negócios. Os procuradores dizem que foram encontrados indícios que indicam para a movimentação da organização criminosa em relação a contratos para a instalação de hospitais de campanha.
Na ação desta quinta, foi preso também o ex-presidente da Assembleia Legislativado Rio Paulo Melo. Mário Peixoto foi preso em Angra dos Reis, na Costa Verde. Ele e é dono de empresas que têm contratos com as gestões de Sérgio Cabral e Wilson Witzel.
POR CAUSA DA PANDEMIA – A Poli?cia Federal (PF) e o MPF, por pouco, não teriam conhecimento de que o esquema de fraudes na saúde com envolvimento em Organizações Sociais (OSs) estava a pleno vapor durante a pandemia. Foi justamente por causa da expansão da Covid-19, que os investigadores tiveram que adiar a operação, antes marcada para o início de 10 de março.
Os mandados de prisa?o dos acusados e de busca e apreensa?o já estavam em ma?os para cumprimento, mas, com o agravamento da crise do novo coronavírus, foi preciso aguardar. Os dois meses foram imprescindíveis para que os policiais e procuradores, por meio das interceptações telefônicas que prosseguiram, descobrissem que o esquema dos envolvidos não só continuaram como se expandiram para os hospitais de campanha que estavam sendo montados. As quebras telemáticas também foram mantidas e trouxeram mais informações sobre a fraude montada pela organização criminosa.
PROVAS ABUNDANTES – Segundo o Ministério Público Federal, “assim, com o prosseguimento das interceptac?o?es telefo?nicas e telema?ticas, foi possi?vel colher provas de que a organizac?a?o criminosa persistiu com as pra?ticas criminosas mesmo durante o agravamento da pandemia, inclusive se valendo da situac?a?o de calamidade que autoriza a contratac?a?o emergencial e sem licitac?a?o para obter contratos de forma ili?cita com o poder pu?blico”. Os envolvidos, de acordo com as escutas, destruíram provas e faziam ac?o?es de contraintelige?ncia, nos meses de março e abril.
A investigação da força-tarefa da Lava-Jato no Rio afirma que mensagens localizadas na caixa de e-mails de Alessandro Duarte (apontado como um dos responsáveis por fazer a intermediação entre as empresas do grupo familiar de Mario Peixoto e os operadores financeiros dos agentes públicos) enviadas nos últimos dias indicam que a organização criminosa pode estar expandindo sua influência para contratos da Organização Social IABAS.
HOSPITAIS DE CAMPANHA – A organização social IABAS foi contratada pelo governo do estado para a administração de hospitais de campanha para tratamento de infectados pela Covid-19 por valor de cerca de R$ 850 milhões.
Além disso, o MPF aponta uma possível irregularidade na compra de álcool em gel para a Marinha do Brasil.
O advogado Alexandre Lopes, que defende Mario Peixoto, afirmou em nota que a prisão decretada em desfavor do empresário e seu filho “surpreende pela total ausência de necessidade efetiva de tal medida, em um momento grave de pandemia”.