Críticas “incendiárias” de Bolsonaro ao isolamento social repercutem na imprensa internacional

Charge do Adnael Silva (Arquivo Google)

Deu no Correio Braziliense

As críticas do presidente Jair Bolsonaro às medidas de isolamento que visam mitigar o contágio do coronavírus estão repercutindo no exterior. Em discurso transmitido em rede nacional na noite de terça-feira, dia 24, Bolsonaro pediu a reabertura de lojas e escolas, ainda que especialistas de saúde pública recomendem o confinamento para “achatar a curva” de contaminação pelo covid-19.

O New York Times destacou que Bolsonaro vê a questão do coronavírus como “exagerada” e citou os panelaços que ocorreram na terça-feira durante o discurso do presidente. “Enquanto ele falava, alguns brasileiros que estão em casa, em isolamento, protestaram contra o que consideraram como atitude blasé em relação à pandemia”, informa o jornal americano.

CETICISMO – Colunista do The Washington Post, outro jornal dos Estados Unidos, Ishann Tharoor diz que Bolsonaro, “ao contrário de Trump”, encara a ameaça do coronavírus com “ceticismo”.

“Ele declarou o coronavírus como uma ‘gripezinha’ e criticou governadores do País por instituírem bloqueios em alguns dos principais Estados. E ele divulgou suas próprias supostas proezas atléticas como evidência de que ele poderia suportar o vírus”, escreveu o analista.

EXTREMA DIREITA – O inglês The Guardian, que chama Bolsonaro de “presidente de extrema direta”, destaca que o mandatário brasileiro “disse que não sentiria nada se infectado com a Covid-19”.

“As observações incendiárias de Bolsonaro ocorreram quando o Rio de Janeiro e São Paulo foram colocados sob bloqueio parcial pelas autoridades municipais e estaduais, que temem uma explosão de casos nos próximos dias”, diz matéria publicada no portal estrangeiro. “O presidente resistiu a medidas drásticas para impedir a propagação do que ele chama de ‘gripezinha’”, informa outra nota do mesmo site.

RISCOS MINIMIZADOS – Ainda na Europa, o francês Le Monde afirma que Bolsonaro minimizou os riscos da Covid-19, “que já matou mais de 18 mil pessoas em todo o mundo e forçou um terço da humanidade a aderir medidas de confinamento”.

O portal alemão Deutsche Welle, por sua vez, traz que Bolsonaro é cada vez mais criticado em sua forma de lidar com o coronavírus. “Ele chama de ‘histeria’ e ‘gripezinha’”, diz o jornal.

Sobre o pronunciamento de Bolsonaro, o Japan Times publicou análise do jornalista Dave Graham. “O esquerdista mexicano Andres Manuel López Obrador e o presidente brasileiro de direita Jair Bolsonaro nadaram contra a maré da opinião científica – diminuindo os riscos, delegando responsabilidades e ignorando os conselhos dados ao público”, defende o texto. López Obrador também tem resistido às orientações de isolamento, de olho nos impactos econômicos.

Na América Latina, o argentino Clarín traz análise do editor Ricardo Roa, que cita Bolsonaro e seu posicionamento em coluna intitulada “O vírus da gripe e o delírio”. Já o jornal chileno Emol ressalta que a fala de Bolsonaro foi feita no mesmo dia em que o número de casos de coronavírus no Brasil chegou a 2.201, com 46 mortes.