Carlos Newton
O anúncio da reprise da demissão de Vicente Santini, que o próprio presidente Jair Bolsonaro fez questão de concretizar através de sua conta no Twitter, foi a melhor notícia relativa ao atual governo desde a posse, no dia 1º de janeiro de 2019. O significado maior, em tradução simultânea, é o esvaziamento da influência que os três filhos tinham sobre a administração pública, pois vinham se comportando como se fossem príncipes regentes.
Ressalte-se que o presidente da República não tinha opção. Os três filhos simplesmente não aceitaram a demissão do amigo comum Vicente Santini, que eles tinham conseguido emplacar na secretária-executiva da Casa Civil. Nesta quinta-feira, sem autorização do pai, espantosamente mandaram a Casa Civil renomear Santini para outro cargo de salário equivalente.
AUDÁCIA INSENSATA – Não satisfeitos com o ato e demonstrando surpreendente ousadia, Flávio (Zero Um), Carlos (Zero Dois) e Eduardo (Zero Três) providenciaram também um nota informativa da Casa Civil, para inventar que Bolsonaro havia se reunido com o ex-secretário e “o presidente entendeu que o Santini deve seguir colaborando com o governo”.
Os três filhos pensaram (?) que o pai respeitaria a decisão deles, porque a Casa Civil anunciou à imprensa como um fato consumado. Mas foi um erro tremendo, porque o presidente da República se sentiu traído, usado e manipulado pelos filhos, reagindo com presteza e rigor, ao divulgar uma mensagem seca no Twitter: “Informo que em Diário Oficial será publicado: Tornar sem efeito a admissão do servidor Santini; Exonerar o interino da Casa Civil; e Passar a PPI da Casa Civil para o Ministério da Economia”.
SEM EXPERIÊNCIA – Filho de um general amigo de Bolsonaro, Vicente Santini é formado em advocacia e sua experiência administrativa se limitou ao fato de ter trabalhado na modesta função de assistente no Ministério da Defesa, durante o segundo governo Lula da Silva, de 2007 a 2010. Depois, seu currículo se resume à condição de advogado, que estaria fazendo doutorado.
Ora, sem experiência específica, Santini jamais poderia ser nomeado para um cargo importantíssimo como a Secretaria-Executiva da Casa Civil, qu deve funcionar como locomotiva do governo.
Este fato comprova que Onyx Lorenzoni jamais foi verdadeiramente prestigiado por Bolsonaro, pois não conseguiu nomear os dois cargos mais importantes da pasta – Secretaria-Executiva e Subchefia de Assuntos Jurídicos, que foi e continua sendo ocupada por Julio de Oliveira, também advogado inexperiente e amigo dos filhos de Bolsonaro, que atualmente acumula a Subchefia de Assuntos Jurídicos com a Secretaria-Geral da Presidência da República, cargo com status de ministro.
OUTROS PROTEGIDOS – Além de Vicente Santini e Julio de Olveira, no Planalto há muitos outros protegidos pelos filhos de Bolsonaro, como Fernando Moura, secretário-executivo adjunto da Casa Civil, que assinou a nova nomeação de Santini e também foi demitido por Bolsonaro. O mais destacado deles, que ainda permanece no cargo, é Felipe Martins, assessor especial para assuntos internacionais de Bolsonaro.
Agora, todos os amigos dos filhos de Bolsonaro devem estar na expectativa, porque desta vez o presidente da República realmente se aborreceu.
Quanto a Onyx Lorenzoni, jamais teve grande importância no governo, a partir do momento em que demonstrou inabilidade à frente da articulação política do Planalto. Se for demitido (ou se demitir), será igual à maioria dos ministros – não fará a menor falta. Além dos militares, liderados pelo ministro-general Augusto Heleno, os únicos ministros com peso real no governo são Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça e Segurança), Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Tereza Cristina (Agricultura). O resto são ausências que preenchem lacunas, como se dizia antigamente.