- Por Chico Otavio, Daniel Biasetto, Juliana Castro de O Globo
Entre os alvos da Operação Patrón, deflagrada nesta terça-feira, está Myra de Oliveira Athayde, namorada do doleiro Dario Messer. Ela foi presa em seu apartamento em Ipanema, na Zona Sul do Rio, acusada de ajudar o “doleiro dos doleiros” a ocultar dinheiro ilícito. A mãe de Myra e ex-deputada federal, Alcione Athayde, também foi alvo de mandado de prisão.
Para o Ministério Público Federal (MPF), Myra, a mãe e o padrastro, Arleir Francisco Bellieny, fazem parte do núcleo que auxiliava com o transporte e recebimento dos recursos financeiros ocultos de Messer. Alcione Athayde já foi presa antes, quando era subsecretária de Saúde do Estado. Em 2008, ela foi detida por conta da investigação da Polícia Civil do Rio sobre fraudes na Saúde, na gestão da ex-governadora Rosinha Garotinho. A ex-deputada federal é prima de Garotinho.
Entre os elementos que basearam a operação desta terça-feira estão mensagens do WhatsApp e telas capturadas dessas conversas armazenadas por Messer. No celular do doleiro, foi encontrada a fotografia de um extrato de conta em nome de MYRA/VM F.C, no período de janeiro a abril de 2019, com a movimentação de entradas e saídas de recursos em dólares.
Outro diálogo printado encontrado no aparelho de Messer indica que havia, em janeiro deste ano, um crédito de US$ 700 mil à disposição do doleiro no Paraguai. Daí, seriam debitados valores entre US$ 10 a 15 mil mensais que deveriam se entregues a Myra pelo doleiro paraguaio Jorge Alberto Ojeda Segovia, conhecido como Finolo.
Os investigadores apontam ainda que extratos e conversas encontradas no telefone de Messer indicam que a mãe e o padrastro de Myra recebiam de Finolo valores debitados desse crédito a mando do doleiro então foragido da Justiça. Os procuradores descrevem áudio em que Alcione Athayde ressalta a necessidade de não deixar os recursos onde estavam no Paraguai.
Viagens internacionais
O MPF aponta também a entrega de dinheiro à namorada de Messer pelo fazendeiro Antonio Joaquim da Mota, sócio de frigoríficos no Mato Grosso do Sul e no Paraná. Ele aparece nas mensagens do doleiro a que os investigadores tiveram acesso, nomeado como “Tonho”. As conversas indicam que ele ocultava US$ 232 mil do doleiro com o compromisso de mensalmente entregar US$ 10 mil a Myra. Nas mensagens, Messer contabiliza os pagamentos de despesas suas e da namorada. Em julho deste ano, o montante restante era de US$ 192.800.
Por meio da quebra de sigilo telemático, o MPF descobriu que Myra conseguiu uma cédula de identidade paraguaia no que classificou de tempo recorde. O documento foi obtido por meio de uma empresa de assistência a estrangeiros com interesse em residir no Paraguai. Os procuradores apontam ainda que, no mesmo período em que Messer esteve foragido, a namorada passou a realizar viagens internacionais, principalmente para Paraguai, Nova Iorque e Miami. Myra ia ao Paraguai para se encontrar com o doleiro e, segundo aponta o MPF, recebia e transportava o dinheiro oculto, assim como operava para Messer nos outros países que passou a visitar regularmente.