Atriz que protagonizou o primeiro nu frontal feminino do teatro brasileiro comemora 60 anos de carreira com livro, série de TV e filme
Nascida em Caxias do Sul numa família sem relação alguma com a arte, Ítala Nandi tem uma teoria: foi entregue a Dionísio, Deus do vinho e do teatro, quando veio ao mundo. É que depois de horas de um trabalho de parto que não evoluía, sua mãe deu à luz assim que virou uma taça da bebida. Neste momento, Ítala teria se tornado “uma bacante”.
Nem o pai, um vitivinicultor italiano que comandou o exército de Mussolini, foi capaz de frear a filha, transgressora por natureza. Aos 27 anos, protagonizou a primeira cena de nu frontal feminino do teatro brasileiro (em 1969, na peça “Na selva das cidades”, do Teatro Oficina), razão pela qual ele exigiu que a atriz tirasse o sobrenome da família.
Criadora de grandes protagonistas femininas do Oficina, Ítala travou, na vida real, uma luta pela libertação sexual da mulher, ao lado da amiga Leila Diniz. Falava tanto o que dava na telha que uma entrevista sua, publicada na revista “Realidade” e intitulada “esta mulher é livre”, foi censurada pela ditadura.
– Nela, eu perguntava por que o homem que transava com muitas mulheres era garanhão, e a mulher que fazia o mesmo, piranha – lembra Ítala que, depois disso, foi proibida de dar entrevistas por um ano.
Mas, na intimidade, ninguém imaginava que ela pouco ligava para sexo.
– Renato Borghi ( ator ), meu grande amigo, dizia que eu era o único símbolo sexual que não transava – diverte-se. – Só tive orgasmo quando passei a fumar maconha.
Aos 60 anos de carreira e inacreditáveis 78 da idade, a atriz continua a mesma mulher livre de sempre. Ao ser perguntada se abaixaria as alças do vestido para deixar os ombros nus na foto, tira toda a roupa e posa com os seios de fora.
No entanto, é rigidez que empregará na governadora linha dura da série “Baile de máscaras”, da TV Cultura, a partir do fim do mês que vem. Dia 31, Ítala lança “Milagres”, livro em que conta histórias fictícias dos bastidores de trabalhos como a novela “Que rei sou eu?” e o filme “Amor e traição”. Em outubro, estreia o longa “Domingo”, pelo qual ganhou prêmio de melhor atriz no Festival do Rio 2018, e ano que vem, encena a peça “A caçada”. Enquanto isso, comanda uma escola de formação de atores ao lado do único filho, o ator e diretor Juliano Nandi, pai de sua neta, Sofia, de 8 anos.
Nesta entrevista, ela passa a carreira a limpo e lembra seu passado de guerrilheira em Cuba.
– Seria uma Mata Hari.