Carlos Newton
Não é a primeira vez que o presidente da República proíbe seu filho Carlos Bolsonaro de se manifestar sobre assuntos de governo. No dia 7 de abril, como consequência das críticas aos generais Santos Cruz e Villas Bôas, o presidente já havia dado a mesma ordem, dirigida não somente aos três filhos mais velhos, mas também o escritor Olavo de Carvalho.
SANTOS CRUZ – Quase todos cumpriram a ordem, inclusive o guru virginiano, que sonha com patrocínio oficial do Planalto a seu site de ensino a distância. Porém, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, que o pai chama de filho Zero Dois, jamais se conformou com a ordem.
No final de abril, Carlos Bolsonaro retomou a perseguição ao ministro Santos Cruz e não sossegou enquanto não conseguiu demiti-lo através de um motivo manipulado – a cópia de um suposto diálogo que o general teria mantido no celular, tramando contra Bolsonaro.
MÁGOA – Hoje, Santos Cruz é um pote até aqui de mágoa, porque Bolsonaro não lhe deu motivo ao demiti-lo e ele nem perguntou. Somente alguns dias depois é que foi informado da existência da cópia do diálogo que jamais existiu, porque no momento exato da conversa ele estava a bordo de um avião, sem acesso à internet.
Já era tarde demais para reclamar, a demissão continuou valendo, mas todos os militares do primeiro e segundo escalões do Planalto foram informados a respeito. Pegou muito mal para Bolsonaro junto à chamada ala militar do governo.
GEN. HELENO – No embalo da demissão de Cruz, o filho Zero Dois julgou que estava fortalecido o suficiente para vergastar o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. E foi logo atribuindo a ele uma culpa que nem é do GSI, pois a responsabilidade da fiscalização dos aviões presidenciais é da Aeronáutica, que tem sua própria Polícia.
Bolsonaro ficou furioso e renovou a proibição, que foi contestada no Twitter pelo filho Zero Dois, com apoio do Zero Três, Eduardo Bolsonaro, sob argumento de que o irmão teria o direito de se manifestar.
TEXTO REVELADORES – O teor das últimas postagens de Carlos Bolsonaro mostram que ele está confuso. Não parece perceber que a melhor forma de contribuir para o êxito do governo do pai não é investir contra aqueles que julga não estarem cumprindo sua obrigação. Seu objetivo seria alcançado se ele conversasse com o pai reservadamente, sem tomar essas atitudes intervencionistas e desagregadoras.
Carlos Bolsonaro já havia errado no ataque ao vice Hamilton Mourã e na demissão injusta de Gustavo Bebianno. Depois, repetiu a mancada no caso de Santos Cruz. Agora, investe contra o general Heleno, criando mais um problema gravíssimo para o governo.
É claro que Carlos Bolsonaro precisa de ajuda, mas nem mesmo o pai se atreve a ajudá-lo. Talvez a mãe e os irmãos consigam dar o apoio que ele demonstra necessitar. Quem sabe?