Por José Nivaldo Júnior – Publicitário,advogado,historiador, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras.
O progresso da tecnologia não trouxe apenas rupturas no processo produtivo e na vida social. Estimulou e consolidou, através das redes sociais, uma forma sinuosa e dispersiva de pensar e dialogar.
Escolha qualquer postagem neutra nas redes sociais.
Em poucos minutos o debate vira um campo de batalha com frases feitas, repetição de Fake News, cards pré-fabricados e memes ridicularizando as posições. Sem um direcionamento coerente do contraditório. As respostas não têm relação com as perguntas. E as próximas indagações não dialogam com as argumentações anteriores.
Essa técnica da interlocução disruptiva atinge o objetivo de deixar para trás o tema proposto, cujo aprofundamento não interessa aos grupos de opiniões cristalizadas. E, ao mesmo tempo, reforça as posições prévias de cada pessoa envolvida.
A clara estratégia desse método disruptivo de dialogar é afastar os interlocutores da reflexão sobre os temas relevantes propostos e conduzi-los à trilha comum dos rebanhos mentais. Uma nova forma de transformar multidões em boiadas. Porque, como cantava Geraldo Vandré, “gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata”. Com gente, deveria ser diferente.
A tentativa de inibir a reflexão das pessoas comuns remonta ao início da sociedade excludente. A sociedade competitiva utilizou desde a sua origem, no Egito Antigo ou na Mesopotâmia, sofisticados aparatos de controle ideológico e social. A cada avanço tecnológico, que deveria ser libertador, a estrutura dominante reage com renovadas formas de repressão.
Contudo, a adoção em massa do diálogo disruptivo constitui um caso inédito na história. Voluntariamente, acionados por “grandes irmãos” invisíveis e impalpáveis, milhões de pessoas ingressam em seitas disformes, dogmáticas e obscurantistas. O que significa, em última instância, renunciar ao mais elevado nível da condição humana: a capacidade individual de refletir, pensar e concluir por si mesmo.