Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Estadão
A Polícia Federal tem elementos de prova de que um hacker tentou se passar pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e mandou mensagens para terceiros em nome do ex-juiz da Operação Lava Jato. Um dos elementos é uma mensagem enviada no dia 4 de junho em resposta a um funcionário do próprio gabinete de Moro, depois da ativação da conta do Telegram – aplicativo de troca de mensagens via internet – vinculada ao número do ministro.
O ministro da Justiça afirma ter saído do Telegram em 2017, quando sua conta foi excluída. No dia 5 de junho foi revelado que Moro teve o aparelho desativado, após perceber que um dia antes ele havia sido alvo de ataque virtual. O celular do ministro foi invadido por volta das 18h da terça-feira, dia 4. Ele só percebeu após receber três telefonemas do seu próprio número. O ex-juiz, então, acionou investigadores da Polícia Federal, informando da suspeita de clonagem.
A reportagem teve acesso a uma dessas cópias. Nela, o hacker usa uma conta do Telegram vinculado ao número de Moro. No aparelho que recebeu, o nome aparece com “SFM”, abreviação de Sergio Fernando Moro.
Era dia 4 de junho, mesmo dia em que Moro afirmou ter recebido três ligações do aplicativo em seu nome.
O clone recebeu mensagem de uma pessoa próxima de Moro às 21h17, após ativação da conta aparecer no aparelho: “4 de junho. SFM entrou para o Telegram”. No texto, sem saber que não era o ministro do outro lado, ela escreve: “Boa noite. O que achou dessa matéria?”. Anexado a uma publicação do site do próprio Ministério da Justiça sobre o projeto anticrime do governo.
O clone então responde: “vou ler”.
INQUÉRITOS – A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar ataques feitos por hackers aos celulares de procuradores da República que atuam nas forças-tarefas da Lava Jato em Curitiba, no Rio e em São Paulo.
Outro inquérito foi aberto para apurar ataques ao celular do ministro Moro. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou a unificação da investigação em relação aos ataques cibernéticos criminosos contra membros do Ministério Público Federal.
Na entrevista ao Estado, afirmou que foi “vítima de um ataque criminoso de hackers”. “Clonaram meu telefone, tentaram obter dados do meu aparelho celular, de aplicativos. Até onde tenho conhecimento, não foram obtidos dados.”
CONTA CLONADA – No material analisado pela PF, há elementos de que a conta clonada de Moro continuou ativa até pelo menos a última semana. O próprio ministro destacou o fato de não ser “uma invasão pretérita” ao ser questionado sobre as apurações.
“Nós estamos falando aqui de um crime em andamento. De pessoas que não pararam de invadir aparelhos de autoridades ou mesmo de pessoas comuns e agora têm uma forma de colocar isso a público, podem enviar o que interessa e o que não interessa.”
Na última semana, um membro Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) relatou ter seu Telegram clonado. O hacker teria enviado mensagem em seu nome a um grupo do CNMP. As mensagens partiram do celular do conselheiro Marcelo Weitzel Rabello de Souza.
ESTRANHEZA – Os colegas estranharam o tom dos torpedos e começaram a questionar o conselheiro no grupo. Na sequência, receberam outro torpedo dizendo: “aqui é o hacker”. Os conselheiros então ligaram para Marcelo, que argumentou que não estaria usando o aparelho no momento dos envios das mensagens. Marcelo nega que seja uma brincadeira dele com os colegas.
Moro confirmou nesta quarta-feira, 19, em audiência no Senado que sua conta falsa no Telegram continuaria ativa pelo hacker. Ao Estado, em entrevista no dia 14, ele explicou o ocorrido com ele: “O meu celular foi clonado, eles utilizaram o clone do celular para capturar o Telegram, que eu não estava mais, e conversaram com funcionário do Ministério da Justiça fazendo-se passar por mim”.