Joelmir Tavares
Folha
Um dia após discutir com colegas por causa das manifestações de rua em defesa do presidente Jair Bolsonaro e falar em sair da bancada do PSL, a deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal disse nesta terça-feira (dia 21) que ficará no partido.
“Será que um comentário num grupo de WhatsApp é uma decisão? Foi uma conversa, era entre 15 deputados eleitos num grupo fechado. Se alguém vazou isso é porque quer me forçar a sair. Agora é que eu fico!”, afirma ela à Folha.
DISCUSSÃO – Nesta segunda-feira (20), a parlamentar sinalizou que deixaria a legenda depois de discordar, no grupo de mensagens, dos colegas de PSL na Assembleia de São Paulo. Eles defendem a convocação dos atos em defesa do governo, marcados para o domingo (26) e classificados por ela como sem racionalidade.
A deputada diz ainda que mantém o apoio a Bolsonaro, mas pede que ele aprenda a ouvir críticas. “Qual é a nossa alternativa neste momento? Ele foi eleito, ele está na plenitude do cargo. Eu quero que ele se emende.”
Segundo a parlamentar, havia um contexto para a sua decisão de escrever a mensagem e em seguida sair do grupo, mas a situação não ficou totalmente clara porque a conversa com os demais deputados veio a público incompleta.
CONTEXTO – “Você está tentando com argumentos racionais, você não está dizendo que o outro está errado, mas que o outro não está conseguindo refletir. Falei: quer saber? Vou sair desse grupo, vou sair dessa bancada. Mas foi uma coisa que qualquer um ali compreendia que tinha um contexto.”
No debate no WhatsApp, Janaina chegou a escrever que os colegas estavam cegos e que não percebiam que as manifestações poderiam mais prejudicar do que ajudar Bolsonaro.
“Eu não vou sair do PSL. O que eu não vou é me submeter a uma bancada que não vê, não enxerga. Porque eles queriam é que eu acatasse o que decidir a bancada. Falei: desculpa, amigos”, relata à reportagem.
CONVERSAS – Ela, que deu entrevista enquanto ia da sessão de uma comissão para o plenário da Assembleia, disse que ainda não conversou com os outros deputados do PSL. Segundo o deputado Gil Diniz, líder da bancada no Legislativo paulista, o partido é contra uma eventual saída dela.
Sem citar nomes, Janaina fala que “quiseram criar a notícia” de que ela tinha saído do partido. “Eu falei: estou vendo uma situação [sobre sair da bancada]. Eu não sei, não avaliei ainda. Agora, quem pegou isso um minuto depois e jogou para todos os jornais quer que eu saia”, diz a deputada.
“Ah, eu acho assim… Você tem que ter um espaço de divergência dentro dos seus ambientes. Não dá para as pessoas acharem que porque você faz parte do grupo tem que concordar 100% com o grupo, entendeu?”, protesta.
FICA NO PSL – Na noite desta segunda, a parlamentar já havia usado uma rede social para negar sua saída do PSL. “Saí do grupo de WhatsApp. Só isso. Como o Brasil, o partido deve ser plural”, escreveu.
Segundo ela, são incorretos os rumores de que ela já tinha sinalizado antes intenção de abandonar a legenda. “Eu nunca falei isso. Eu nunca falei em sair do PSL, nunca.”
A permanência, no entanto, inclui a continuidade de suas críticas a alas do governo e de bolsonaristas radicais. Janaina mantém firme sua opinião contrária aos protestos previstos para o fim de semana.
VÍDEO DO PASTOR – Ela voltou, como já havia feito no grupo de WhatsApp dos deputados, a criticar o presidente por ter postado um vídeo em que um pastor o defende como um político “estabelecido por Deus” para guiar o Brasil.
Na avaliação dela, que é advogada e professora da Faculdade de Direito da USP, o compartilhamento “foi muito inadequado, sob o ponto de vista da teoria do Estado, da democracia”.
“Alguém tem que alertá-lo do que ele [Bolsonaro] pode e do que ele não pode fazer. Eu acredito que o bom amigo, aquele que quer o sucesso do outro, não é o que aplaude tudo”, opina.
IMPEACHMENT – Celebrizada por ter sido uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), o que a levou a angariar um recorde de mais de 2 milhões de votos no estado, Janaina diz não haver justificativas, por ora, para derrubar Bolsonaro.
“Não tem elemento jurídico para isso [processo de impeachment]. Por enquanto não tem.”