Por Ricardo Noblat (foto)
Foi só para salvar as aparências que o presidente Jair Bolsonaro saiu ontem à noite a defender a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Ministério da Justiça e Segurança Pública aos cuidados do ex-juiz Sérgio Moro.
Essa havia sido lá atrás uma das condições de Moro para aceitar o cargo. O Coaf monitora movimentações financeiras suspeitas. Controlá-lo, segundo Moro, seria vital para o sucesso do combate à corrupção e ao crime organizado.
Por Bolsonaro, tudo bem que o Coaf saísse do Ministério da Economia para o de Moro. Mas por maioria de votos, a comissão mista da reforma administrativa no Congresso aprovou a volta do Coaf ao Ministério da Economia. Foi um duro golpe.
Derrota de Bolsonaro? Do governo? O porta-voz da presidência da República declarou que não. Disse que o Congresso é soberano em suas decisões. A derrota, pois, foi de Moro, que se empenhou pessoalmente pelo que lhe foi recusado.
Quem conhece bem Bolsonaro está cansado de saber: ele nunca perde. Ele nunca erra. São os outros que perdem ou erram. Bolsonaro não tem compromisso com ninguém que o cerca (alô, alô generais!). Só tem com os filhos. A família acima de tudo!
Moro coleciona derrotas importantes desde que trocou a toga pelo modelito bem cortado de ministro do capitão. E tudo para ganhar no próximo ano uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal ou em 2022 a vaga hoje ocupada pelo próprio Bolsonaro.
A derrota de ontem no Congresso ainda poderá ser revertida, mas não será fácil. Nem mesmo a nomeação de Moro para ministro do Supremo será uma tarefa fácil. Ela depende da aprovação no Senado e, ali, poucos gostam de Moro. Não só ali.
A maioria dos deputados federais não gosta de Moro porque veem nele o principal responsável pela demonização da política com a Operação Lava Jato. Até por medo, fazem-lhe mesuras quando o encontram. Pelas costas, falam horrores dele.
Em conversas com auxiliares de confiança, o ex-juiz já reconhece que não deu um bom passo ao se mudar de Curitiba para Brasília e confiar nas promessas que ouviu de Bolsonaro. Mas a essa altura só lhe resta perseverar no caminho que escolheu.
A última do garoto Eduardo
Em casa, entre os seus
Uma vez que o irmão Flávio recolheu os flaps devido aos seus rolos com Fabrício Queiroz e milicianos cariocas, e o outro irmão, Carlos, dono das senhas do pai nas redes sociais, aderiu ultimamente à postagem de mensagens cifradas, o deputado Eduardo assumiu o papel temporário ou não de 01 dos Bolsonaro.
De volta da fronteira com a Venezuela depois de mais uma tentativa frustrada de assistir à queda do governo de Nicolás Maduro, Eduardo sentiu-se à vontade para despachar com embaixadores em Brasília na condição informal de chanceler do pai, e de aceitar convites para pregar suas ideias esdrúxulas.
Foi o que fez ontem à noite em São Paulo para uma entusiasmada plateia reunida no Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, entidade criada para “preservar a Civilização Cristã”. E ali, ao defender o direito a posse de armas, ensinou que é “mais difícil dirigir um carro do que usar uma arma de fogo”. Mas não só.
Disse que não é papel do governo “defender todas as pessoas”. Quanto à ação de ladrões, comentou: “Não é papel da polícia defender a sua casa quando alguém entra lá. Obviamente ela vai ser acionada e vai fazer o melhor de si. Então, quando alguém entra na sua casa, o primeiro responsável pelo combate é você.”
Não faltaram naturalmente ataques ao “politicamente correto” e à imprensa que tudo distorce para prejudicar o governo e favorecer à esquerda. Acabou aplaudido de pé por extremistas de direita, monarquistas e ex-policiais que pensam como ele. Bolsonaristas de raiz que ainda não perderam a fé no capitão.
Revista Veja