Em mensagem sobre o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado nesta sexta-feira, 3, António Guterres expressa preocupação com ataques a jornalistas
Uma imprensa livre é o pilar para a construção de instituições justas e imparciais, responsabilizando líderes e falando a verdade a quem detém o poder.
Foi o que disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em uma mensagem sobre o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado nesta sexta-feira, 3. Criada em 1993, a data discute este ano a relação entre jornalismo e eleições, sob o tema “Mídia para a Democracia: Jornalismo e Eleições em Tempos de Desinformação”.
A celebração da data ao redor do mundo neste ano enfatiza o papel importante que o bom jornalismo desempenha na defesa da democracia e de eleições livres, nas quais a desinformação vem se tornando um grande problema, mesmo nas mais antigas e sofisticadas democracias do mundo.
“Fatos, não mentiras, devem guiar as pessoas quando elas escolhem seus representantes”, disse Guterres em sua mensagem, acrescentando que “embora a tecnologia tenha transformado a forma como recebemos e compartilhamos informações, às vezes, ela é usada para enganar a opinião pública ou alimentar violência e ódio”.
O secretário-geral também expressou preocupação com ataques a jornalistas, afirmando estar “profundamente perturbado com o crescente número de ataques e com a cultura de impunidade”. “Quando trabalhadores dos meios de comunicação se tornam alvo, as sociedades como um todo pagam o preço”, disse Guterres.
Guterres alerta que os direitos cívicos estão retrocedendo a um ritmo alarmante no mundo e diz que “com a retórica contra a mídia aumentando, também crescem a violência e o assédio contra jornalistas, incluindo mulheres”. O secretário-geral finaliza sua mensagem pedindo a todos que “defendam os direitos dos jornalistas, cujos esforços ajudam a construir um mundo melhor para todos”.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), quase 100 jornalistas foram mortos no exercício da profissão em 2018, e centenas foram presos.
A mensagem de Guterres está em consonância com um relatório divulgado em abril deste ano, pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), que apontou que a liberdade de imprensa piorou de uma forma geral no mundo em 2018.
No caso do Brasil, que caiu três posições em relação ao ano de 2017, no quesito liberdade de imprensa, ficando em 105º lugar, entre 180 países analisados, a RSF destacou o clima tóxico da polarização política, o uso das redes sociais – em especial o WhatsApp – para espalhar notícias falsas e desacreditar veículos da imprensa e os ataques do presidente Jair Bolsonaro, que transformaram jornalistas nos alvos prediletos de seus seguidores.
No último dia 19 de abril, o presidente fez um aceno à imprensa, destacando que a mesma é essencial “para que a chama da democracia não se apague”, em um discurso na cerimônia de comemoração do Dia do Exército, em São Paulo. O aceno, no entanto, não durou muito tempo. Dias depois, o presidente tornou a usar sua conta oficial no Twitter para atacar jornalistas.