É Brasil! Wagner Moura dança frevo no tapete vermelho do Festival de Cannes
Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – O cinema brasileiro voltou a rugir nas telas internacionais com o novo filme de Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto. Com Wagner Moura no papel principal, a obra já é uma das mais comentadas da edição deste ano do prestigiado Festival de Cannes, onde disputa a cobiçada Palma de Ouro. Trata-se de um suspense carregado de densidade política, que lança um olhar profundo sobre a memória, os subterrâneos do poder e os “tubarões” que governam — ou manipulam — o Brasil.
Filmado em parte no Recife, cidade onde Mendonça costuma ancorar sua estética e crítica social, o longa nos conduz por uma trama tensa e instigante. É uma narrativa que opera como denúncia e como reflexão, cruzando os vestígios da ditadura com os mecanismos de dominação contemporâneos. Há uma atmosfera de conspiração e silêncio, típica dos thrillers clássicos, mas com sotaque e pulsação nacionais.
Wagner Moura, ator conhecido por papéis de forte cunho político, entrega mais uma atuação carregada de vigor e profundidade. Seu personagem não é um herói convencional: é alguém que se move entre dilemas éticos, rastros de violência institucional e as sombras de um passado que insiste em não passar.
O Agente Secreto não apenas coloca o Brasil na vitrine do cinema mundial — coloca também a nossa realidade política sob os refletores. E o faz com o talento de um cineasta que já foi aclamado por obras como Aquarius e Bacurau, e que agora retorna com uma narrativa mais afiada do que nunca.
Na Croisette, Mendonça leva mais do que um filme: leva consigo as inquietações de um país inteiro. Leva os sussurros das salas de tortura, os arquivos queimados, os interesses ocultos — e os “tubarões” que nadam, vorazes, nos salões do poder.
Em tempos de apagamento histórico e revisionismo oportunista, O Agente Secreto se impõe como obra urgente. Um chamado à memória, ao enfrentamento e à consciência. E, talvez por isso mesmo, já seja um dos filmes mais esperados e politicamente relevantes da temporada.