Frevo Esquecido na Briga dos Palcos, Mídia Fora do Ritmo e Política Descompassada. Por Flávio Chaves

  Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –    O Marco Zero, tradicional polo do Carnaval do Recife, tornou-se palco não apenas de grandes shows, mas também de uma disputa política que parece ultrapassar os limites da folia. A instalação de um palco pelo Governo do Estado, a apenas 120 metros do espaço utilizado pela Prefeitura, gerou um embate que tomou conta da mídia pernambucana nos últimos dias. O tema foi destaque na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), com um discurso do deputado estadual João Paulo (PT) nesta quarta-feira (19).

O parlamentar destacou que muitos desconhecem que o Marco Zero pertence ao Governo do Estado e não à Prefeitura do Recife. Segundo João Paulo, a instalação do palco estadual gerou críticas à governadora Raquel Lyra, mas ele ponderou que a estrutura não interfere diretamente na programação municipal e pode contribuir para o evento.

“Se houvesse diálogo e parceria, poderíamos ter um Carnaval ainda maior. O espaço é do Governo do Estado, e ele tem legitimidade para utilizá-lo”, afirmou João Paulo, sugerindo que a iniciativa deveria ser encarada como uma ampliação da festa, e não como um conflito político.

O verdadeiro questionamento que surge é: o que o Carnaval realmente ganha com essa polêmica? A imprensa pernambucana, carente de notícias de real relevância, passou dias se ocupando dessa disputa institucional, deixando de lado a essência do Carnaval e sua importância cultural. O Frevo, um dos maiores símbolos da identidade pernambucana, tem sido deixado em segundo plano para dar espaço a uma guerra de egos políticos.

Chega a ser lamentável que a cobertura jornalística se arraste por dias em torno de uma pauta tão rasa, ignorando o que realmente importa: a valorização da cultura pernambucana. Será que a imprensa local esgotou sua criatividade a ponto de se render à mesmice? É impressionante como alguns setores do jornalismo parecem mais interessados em alimentar disputas vazias do que em promover debates sobre os desafios e avanços necessários para fortalecer o Carnaval e o Frevo. O que deveria ser uma celebração da identidade pernambucana vira um campo de batalha midiático, onde o espetáculo da informação se perde em repetições sem substância.

A grande questão não é apenas se há ou não espaço para dois palcos no Marco Zero, mas o que se perde ao transformar o Carnaval em uma extensão das disputas eleitorais. Quem sai mais prejudicado nessa equação? A população, que quer apenas aproveitar a festa? O jornalismo, que se rende a pautas superficiais? Ou o próprio Frevo, que deveria ser o grande protagonista desta época do ano? Pernambuco precisa decidir se deseja ser reconhecido pelo brilho de sua cultura ou pela pequenez de suas questiúnculas políticas.

João Paulo relembrou sua gestão como prefeito do Recife e destacou que, mesmo em lados opostos, manteve uma relação colaborativa com o então governador Jarbas Vasconcelos. Para ele, a melhor saída seria buscar entendimento e evitar disputas desnecessárias.

“O ideal é que os governantes sigam o exemplo da parceria que tive com Jarbas. O palco estadual está programado para atividades diurnas, enquanto o da Prefeitura concentra sua programação à noite. Há espaço para convivência sem rivalidade”, defendeu.

O Governo do Estado ainda não divulgou a programação oficial do palco no Marco Zero, mas a Secretaria de Cultura realizará uma coletiva nesta sexta-feira (21) para apresentar os detalhes. Enquanto isso, o debate político segue acalorado, e a pergunta que fica é: Pernambuco ganhará um Carnaval grandioso ou continuará refém de questiúnculas políticas e da falta de visão de uma imprensa que se repete sem ousadia?