Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Nos bastidores do Palácio do Planalto, uma figura tem chamado a atenção não apenas pela sua presença constante, mas pelo peso de sua influência nas decisões do governo: Rosângela da Silva, conhecida como Janja, primeira-dama do Brasil. Longe de ser uma figura meramente protocolar, Janja tem se tornado uma peça central no tabuleiro político do governo Lula III. Sua atuação, no entanto, tem gerado desconforto entre aliados históricos do presidente e levantado questões sobre os rumos da atual gestão.
Janja não é uma primeira-dama convencional. Desde o início do governo, ela tem participado ativamente de reuniões estratégicas, influenciado nomeações e até mesmo opinado sobre políticas públicas. Sua proximidade com Lula é inegável, e sua voz tem sido decisiva em momentos cruciais. No entanto, essa influência excessiva tem custado caro ao governo.
Aliados históricos de Lula, que estiveram ao seu lado durante os anos mais difíceis, como o período da Lava Jato e sua prisão, hoje se sentem marginalizados. A sensação é que o presidente, antes conhecido por sua habilidade em construir pontes e manter coalizões amplas, agora está mais isolado, cercado por um círculo íntimo onde Janja exerce papel preponderante. Esse afastamento não é apenas simbólico; tem consequências práticas. Sem o apoio de suas bases tradicionais, Lula fica mais vulnerável a críticas e menos capaz de construir consensos em um Congresso fragmentado.
Um dos maiores riscos para qualquer governante é o isolamento. Lula, que construiu sua trajetória política com base em alianças sólidas e uma rede de apoio ampla, parece estar perdendo o contato com aqueles que o levaram ao poder. Relatos de bastidores indicam que Janja tem sido uma figura central nesse processo, afastando aliados históricos e priorizando sua própria agenda. Esse afastamento não é apenas uma questão de ego ou disputa interna; tem impactos reais na capacidade do governo de governar.
A falta de diálogo com setores importantes da base aliada, como partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais, tem gerado atritos e dificultado a implementação de políticas públicas. O resultado é um governo que, apesar de ter chegado ao poder com uma ampla coalizão, hoje parece caminhar de forma mais solitária e menos eficaz.
Os números recentes da pesquisa Datafolha, que mostram uma aprovação de apenas 24% para Lula, são um reflexo claro dessa dinâmica. A inflação alta, os juros elevados e a falta de medidas eficazes para conter o desequilíbrio fiscal são problemas que afetam diretamente a vida dos brasileiros. E, em grande parte, esses problemas podem ser atribuídos a decisões políticas equivocadas, muitas das quais parecem ter sido influenciadas por Janja.
A primeira-dama, que não tem experiência formal em economia ou política, tem sido acusada de interferir em áreas que vão além de seu escopo tradicional. Desde nomeações controversas até a defesa de políticas públicas questionáveis, sua influência tem sido vista como um fator de desestabilização dentro do governo. E, como bem sabemos, a história não perdoa governos que falham em entregar resultados. A democracia, que Lula tanto defende, é também um sistema que premia ou pune gestões com base em sua eficácia. E, no momento, o governo Lula III está falhando em cumprir suas promessas.
A influência de Janja nos bastidores do Palácio do Planalto serve como um alerta para o governo Lula III. Líderes que se isolam em círculos íntimos e afastam seus aliados tradicionais correm o risco de cometer erros graves. Lula, que construiu sua trajetória com base em alianças e coalizões, precisa retomar o contato com suas bases e reconstruir as pontes que o levaram ao poder.
A democracia, afinal, não perdoa governos que falham em cumprir suas promessas. E, nesse sentido, o relógio está correndo. Resta saber se Lula conseguirá reverter o curso antes que seja tarde demais. A influência de Janja, por mais bem-intencionada que seja, não pode se sobrepor à necessidade de um governo eficaz e conectado com as demandas da população. A história, como sempre, terá a última palavra.
O governo Lula III está em um momento decisivo. A influência de Janja da Silva, embora não seja o único fator, tem contribuído para uma dinâmica de poder que afasta aliados e dificulta a governabilidade. Para que o governo retome o rumo e cumpra suas promessas, é essencial que Lula encontre um equilíbrio entre sua vida pessoal e as demandas políticas de sua gestão.
A democracia exige resultados, e o tempo está se esgotando. Resta saber se Lula conseguirá ajustar o curso antes que a insatisfação popular se transforme em uma crise política de maiores proporções. A influência de Janja, por mais que seja parte do cenário, não pode ser o fator que define o sucesso ou o fracasso de um governo que chegou ao poder com tantas expectativas.