Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Em 20 de janeiro de 1971, o Brasil testemunhou um dos capítulos mais sombrios de sua história política. Rubens Paiva, ex-deputado federal e um defensor incansável da democracia, foi retirado de sua casa no Rio de Janeiro por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa). Desde então, sua prisão, tortura e assassinato nos porões do regime militar tornaram-se um marco do autoritarismo que imperava na época.
Rubens Paiva era mais do que um político; era um idealista comprometido com causas fundamentais para o avanço social do país. Durante sua carreira, liderou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava supostos financiamentos ilegais de campanha e defendia com veemência a reforma agrária. Sua atuação, embora aplaudida por muitos, também o tornou um alvo do regime que silenciava vozes contrárias.
Depois de ser levado de sua residência, Rubens Paiva enfrentou dias de tortura que culminaram em sua morte. Primeiro, ele foi conduzido ao quartel da Força Aérea Brasileira (FAB), onde foi brutalizado. Posteriormente, foi entregue aos militares do DOI-CODI, onde sua vida foi tragicamente ceifada. Segundo os registros da Comissão Nacional da Verdade, divulgados em 2014, os horrores que sofreu foram parte de uma estratégia sistemática de repressão.
Por anos, a família de Rubens Paiva viveu a angústia do desaparecimento forçado. Sua esposa, Eunice Paiva, tornou-se um símbolo de resistência ao buscar incessantemente a verdade sobre o paradeiro de seu marido. Apenas em 1996, mais de duas décadas após sua morte, ela conseguiu obter o atestado de óbito de Rubens, encerrando oficialmente a busca por uma confirmação que o Estado havia negligenciado.
A história de Rubens Paiva ganhou novo fôlego com o lançamento do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, inspirado no livro homônimo escrito pelo jornalista Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-parlamentar. A obra traz à tona não apenas os horrores da ditadura, mas também os dias de dor enfrentados pela família, em especial pela incansável Eunice Paiva.
O filme e o livro resgatam um legado de coragem e idealismo que transcende o tempo. Mais do que relembrar um episódio trágico, essas narrativas colocam em destaque a importância de defender a democracia e os direitos humanos, valores pelos quais Rubens Paiva deu sua vida.
Em um país que ainda enfrenta desafios democráticos, a história de Rubens Paiva permanece um lembrete urgente da importância da memória histórica. Seu compromisso com a justiça social, sua coragem em tempos de repressão e o sofrimento de sua família são lições que ecoam até os dias de hoje.
Mais do que uma vítima de um regime autoritário, Rubens Paiva é um símbolo de resistência e da luta por um Brasil mais justo e igualitário. Que seu nome e sua história continuem a inspirar aqueles que acreditam na democracia como o caminho para a liberdade e a dignidade humana.