ADELAIDE. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

O carpinense que fez hora no Bar de Dedé, na Sorveteria Oriental e no Lanche Bem, antes de ir para os famosos bailes no Clube Lenhadores; assim como os que “bateram o ponto” nas famosas “resenhas” do day after na calçada do clube, têm uma dificuldade enorme de guardar segredos.

Foi justamente isso que o escritor Anax Salgado nos repassou quando lançou o seu primeiro título – CRÔNICAS VIVAS – no qual fez uma síntese do que seria o romance Adelaide, a época, em construção.

Adelaide chegou em alto estilo!

Nainho – é assim que os amigos que dividiram bons momentos da juventude tratam Anax – foi cuidadoso, zeloso ao extremo, ao usar a arte para inverter fatos que nossa geração testemunhou na vida real, durante página infeliz da história do Brasil.

Confesso que minha paixão por Adelaide se deu no primeiro olhar: ao descrever seu biotipo o autor nos leva a devaneios. Acredito que sua escultura no imaginário começou por “Iracema, a virgem dos lábios de mel”; seguiu por Ursula Andres, Jane Fonda, Brigitte Bardou, Sofia Loren, Catherine Deneuve, Sônia Braga, Leila Diniz… e no final saiu sua personagem que tem no DNA uma pitada do que carregam as heroínas dos romances de Sidney Shelton.

A transição da arte para a vida real, nos trazendo cenários explorados por nós, e inserindo no contexto amigos que fizeram parte de nossas vidas, nos transportou para dentro da história. Em dado momento pensei até que estava vendo o Vicente (um dos protagonistas do romance) abastecer o seu Belcar na “bomba” de seu Firmino, que ficava colada com o Bar dos Nambus, de propriedade de Dedé.

O Crime do Quilômetro 70 foi um dos maiores feminicídios da história de Pernambuco. Deu-se nos anos 60. A época não se falava em feminicídio. Foi um crime hediondo empanado pelo poder e a impunidade, que segue como marcas registradas da nossa sociedade. A história de Adelaide é contada na contramão, com o devido cuidado de não citar nomes, mas sem esconder sua indignação com o absurdo e a violência que o poder permitia.

Adelaide não chega a ser um romance policial, seu viés político é bem mais forte, mas o autor nos repassa inúmeros conhecimentos ao explorar ícones da culinária pernambucana; de várias regiões italianas e até nos ensinou a fazer harmonização com vinhos quando cita rótulos que revelam seu refinamento. Anax em seu recente retiro na aprazível Cordoba, na Argentina, por pouco não se transformou num enólogo.

A citação de inúmeros personagens da cultura brasileira, artistas e intelectuais, referências de resistência nos emblemáticos anos 60, aproximou a arte da vida real.

Quem conhece Nápoles, com sua romântica Costa Amalfitana, viaja em lembranças ao ler Adelaide. Anax transforma a região italiana num imperdível destino turístico.

Ah! Ler o Pasquim, quase as escondidas, nos aposentos de Birau, em equipamento anexo a casa do Sr. Joaquim Egídio, ao lado do Lenhadores, não tinha preço.

Adelaide me levou até a essas lembranças.

Querido Nainho!

Adelaide não é só sua. Ela chegou para conquistar a todos, embora não esteja acessível, como ela bem ressalta.