Bons e maus momentos da vida cotidiana, na visão realista da poeta Ilka Bosse

Ilka Bosse, poeta catarinense

A pedagoga (formada em duas habilitações na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras), empresária, escritora, cronista e poeta catarinense Ilka Bosse, no poema “Eu Vi”, fala de cenas e fatos marcantes do cotidiano.

EU VI
Ilka Bosse

Hoje vi…
…transeuntes apressados
arrancarem sonhos da madrugada.
Vi, no banco da praça, idosos
extirparem a tristeza do peito,
pensando que chorar é defeito.

Vi pessoas de todas as idades
afogando a esperança,
na lagoa do crepúsculo.
Extorquirem gemidos de dores,
nas macas, pelos corredores
dos hospitais,
a qualquer hora do dia.
Isto me (entristece) entristecia.

Mas, hoje vi, também…
Pessoas alegres, arrebatarem
toneladas de sorrisos…
Tropeçando nos escombros
dos sonhos abandonados…
Sem se importarem…

Hoje vi…
Solitários rostos, de olhar opaco.
Vi fenecer o sonho do rico,
arrastar-se na lama, qual caco…
Vi aflorar o brilho no olhar
do pobre e do miserável.
Que sensação agradável!
Eu vi…

Hoje vi…
o luar diferente,
a noite invernal mais quente.
Vi, o dia ser enxotado,
em direção à noite.
Vi o sol engolindo o anoitecer,
qual açoite…
Eu vi….
Mas, o aconchego do abraço?
Não senti…

Hoje vi…
o dia chuvoso, agonizando.
Aos poucos, silenciando…
Mas, também vi…
O inverno afrouxar as garras,
afiadas e frias, qual raivosa fera,
dando lugar à….
Primavera!
Que ainda não chegou…
Eu vi!