Geraldo Júlio articulou doação do terreno do Museu Espaço Ciência

BLOG DO MAGNO MARTINS

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Geraldo Júlio (PSB), articulou a doação gratuita de parte de terreno no Parque Memorial Arcoverde para instalar um datacenter. A informação está comprovada por ofício, em documento assinado pelo próprio ex-prefeito do Recife. Segundo fonte sob reserva no Palácio do Campo das Princesas, em julho de 2022, o ex-prefeito já pressionava outros setores do Governo do Estado para a efetivação da doação do imóvel para a empresa privada, como consta no texto do ofício.

O terreno, muito valorizado, é próximo ao Shopping Tacaruna e está sendo doado pelo Governo do Estado para uma empresa privada. A doação implicará na retirada de vários equipamentos do Museu Espaço Ciência e revoltou apoiadores do museu. Em entrevistas na TV, a direção do Museu disse que só sabia que seria instalado um cabo submarino no terreno, mas que nunca foi informada da doação da área para uma empresa privada. O espaço doado tem projeto de Burle Marx, de interesse federal histórico e paisagístico. O terreno também está na área de influência do sitio histórico de Olinda, portanto, só poderia ter intervenção de obras com autorização prévia federal.

Segundo o Jornal do Commercio, o governador Paulo Câmara (PSB) decidiu, em reunião realizada ontem, manter a doação articulada por Geraldo Júlio de 8 mil m² do Espaço Ciência para instalação de um centro tecnológico. Em compensação, informou que publicará nesta semana a cessão de 10 mil m² do lado pertencente a Olinda do Memorial Arcoverde, onde o museu está instalado, para realocação dos equipamentos presentes na área afetada.

A proposta já havia sido informada à imprensa, mas não agradou a direção do museu, que explicou que afetaria a didática cronológica, já que cada espaço foi pensado para um melhor aprendizado. No domingo (27), a partir das 13h, haverá uma mobilização no Espaço Ciência contra a doação. “Quem pensou nisso não tem noção do que é o Espaço Ciência, nem do que é um museu. Isso é uma falácia – inventaram para tentar se livrar [das críticas]. Isso nunca foi acordado”, pontuou o diretor, Antônio Carlos Pavão.

O local foi doado para a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (ADEPE) para que uma empresa privada possa instalar um data center – centro de processamento de sistemas computacionais de uma empresa ou organização – e um “landing station” para receber cabos submarinos. Em fevereiro deste ano, o Governo do Estado publicou uma notícia informando sobre a instalação de um Data Center no Espaço Ciência, e que seria fundamental para “promover a conexão de Pernambuco ao cabo submarino SeaBras-1, garantindo ao Estado internet global de alta, baixa latência e menor custo de contratação”, com expectativa de faturamento de R$ 320 milhões ao ano. O diretor do museu esteve presente durante a visita de técnicos e afirmou ter concordado com a instalação, já que agregaria valor à própria exposição, mas que não sabia ou aceitou que parte do equipamento fosse desmembrado. Nesta semana, entretanto, recebeu um e-mail para retirada com urgência dos objetos presentes nos 8 mil m² doados.

O Espaço Ciência é um dos dois únicos museus científicos ao ar livre no mundo e recebe cerca de 100 mil visitantes ao ano. Ele é dividido em cinco áreas: água, movimento, percepção, terra e espaço – sendo a área chamada “espaço” a atingida pela medida. Nela, são desenvolvidas várias atividades de divulgação científica como confecção e lançamento de foguetes, oficinas, observação do Sol.

Segundo o Jornal do Commercio, a falta de informações sobre as mudanças no Espaço Ciência, localizado no Memorial Arcoverde, entre o Recife e Olinda, ainda preocupa arquitetos e urbanistas envolvidos com o projeto original. Ele é, hoje, uma das poucas partes preservadas do projeto idealizado pelos renomados paisagista Burle Marx e arquiteto Acácio Gil Borsoi em 1986 – e que nunca foi finalizado pelo Governo de Pernambuco.

Co-autor do projeto, o arquiteto e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Luiz Vieira, afirmou que ele está inscrito em uma área de proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que não permite a construção de imóveis na área verde. “É um patrimônio da humanidade, paisagístico, arquitetônico e urbanístico”.