O que está em jogo é o imponderável

*Por Bruno Brennand

Essa minha história não é nova, já contei diversas vezes. Conheci Eduardo Campos em 1992, quando ele disputou a prefeitura do Recife. Ficou em quinto lugar, tendo menos votos que Jarbas, Humberto Costa, André de Paula e o finado Newton Carneiro. Recordo-me bem dele falar em vitórias e derrotas eleitorais e vitórias e derrotas políticas. Na sua visão, embora tenha sofrido uma derrota eleitoral, teve uma vitória política, ganhou projeção, tanto que anos depois se tornou o melhor governador que o Estado de Pernambuco já conheceu.

Minha amizade com ele perdurou até o imponderável atravessar o nosso caminho. A sua morte decorrente de um acidente aéreo, em plena campanha eleitoral para Presidente da República, em 13 de agosto de 2014. A importância de sua candidatura era tamanha que até o governo Norte Americano, de forma inédita, enviou nota de condolências a um candidato ao cargo maior do poder Executivo da República Federativa do Brasil.

Não tenho dúvidas que a imponderável morte de Eduardo mudou profundamente o resultado das eleições de 2014. Não posso deixar de citar que quem plantou a semente do discurso de aposentar a velha política foi Eduardo quando este prometeu “mandar para casa” políticos como Sarney, Renan, Romero Jucá e outros caciques da velha política. Tal discurso foi a base da vitória de Bolsonaro em 2018.

Agora, em 2022, temos uma excelente novidade. O Estado, seja qual for o resultado, será governado por uma mulher. Mas a ocorrência desse fato se deu novamente em decorrência do sorrateiro imponderável, umas das poucas certezas que há no mundo é a sua inafastabilidade por mais paradoxal que seja, fez a diferença no resultado das eleições para Governo de Pernambuco.

A precoce morte do esposo da candidata Raquel Lyra no dia da eleição impactou de sobremaneira o resultado da mesma. Servindo-me da estatística, uma ciência exata, posso comprovar tal afirmação diante do fato que Raquel teve mais votos que Marília Arraes na capital e em grande parte da RMR, fato não apontado em qualquer pesquisa eleitoral sejam as registradas e divulgadas, sejam nas chamadas pesquisa para consumo interno. Contra o imponderável, não há nada a ser feito. Diante da comoção resta aos adversários demonstrar empatia e compaixão, ser solidário com aquele ou aquela que sofreu a perda do ente querido. Nesse cenário, o eleitor vota por compaixão e não pela razão.

Diante atual quadro, não tenho a menor dúvidas que Raquel Lyra será nossa próxima governadora, terá uma vitória eleitoral, mas a que custo? Raquel, ao contrário de sua oponente nesse segundo turno, tem conteúdo, mas talvez lhe falte forças para liderar e poderá ser sufocada passando para uma mera liderada.

Já Marília, merecedora de respeito pela teimosia, pela insistência e pela resiliência. Mas o que sobra em Raquel, falta em Marília. Um sobrenome não é suficiente para exercer o cargo de governadora. Não só por isso e por outras razões, acredito que não logrará êxito, como em ocorreu nas tentativas de 2018 e 2020.

O PSB (e aí nesse caso leia-se Danilo Cabral, Paulo Câmara, Geraldo Julio e João Campos) sai dessa eleição com dupla derrota. Eleitoral e política. Há quem diga que Danilo repetiu o gesto de Arraes em 1998 e foi para uma eleição sabendo que iria perder, é evidente e previsível a fadiga do PSB. Já na opinião de outros, a candidatura de Danilo foi fruto da famigerada arrogância do PSB, atualmente esfacelado, e a crença quase cega em pesquisas feitas por bruxos, juravam que iriam virar com Lula e com a máquina governamental usada de forma despudorada. Lastimo apenas pela não reeleição do deputado Tadeu Alencar.

Anderson Ferreira, como bem pontuou o jornalista Magno Martins em sua coluna  de 11 de outubro de 2022, foi incapaz de casar seu voto com o de Bolsonaro, saindo dessa eleição igualmente com derrota eleitoral e derrota política. Teve menos voto que seu candidato ao senado, não conseguindo aproveitar a nacionalização do debate e angariar votos com a polarização da eleição 2022. Curiosamente não podemos dizer o mesmo de seu irmão André Ferreira que se sagrou vitorioso eleitoralmente e politicamente.

Por fim, Miguel Coelho, embora do ponto de vista numérico tenha sido o que obteve a menor votação dos cinco primeiro colocados, sendo evidente a derrota eleitoral, foi quem obteve a maior vitória política, lembrando-me Eduardo Campos em 1992. Lutou primeiramente dentro do próprio partido, superando diversos atos vis e de sabotagem da direção partidária. Em seguida lutou contra grande desconhecimento de sua pessoa e de sua gestão por parte do eleitorado pernambucano. Mesmo assim, ficou atrás do candidato do Governo apenas por mil votos e atrás de Anderson por cinco mil votos, certamente em decorrência da transferência de seus votos para Raquel em razão do acontecimento imponderável.

De pronto, Miguel já declarou seu apoio à Raquel Lyra, tendo sido o primeiro e sem qualquer barganha ou contrapartida a anunciar seu voto no segundo turno para Governadora.  Jovem, com apenas 32 anos, é sem dúvidas um nome que ainda muito contribuirá para o crescimento de nosso Estado, assim como fez em Petrolina. Agora declarando seu apoio à reeleição do presidente Bolsonaro certamente será importante interlocutor junto ao Governo Federal em caso de reeleição do presidente, e se a provável futura Governadora não quiser repetir os erros de Paulo Câmara que teve a capacidade de ser oposição cega a três Presidentes da República (Dilma, Temer e Bolsonaro), muito pouco Pernambuco se beneficiará com a tardia aposentadoria do PSB.

Alea jacta est, estratégias definidas, campanha retomando corpo seja nas ruas como nas redes sociais e outros meios de comunicação. Mas não devemos nunca desprezar a ocorrência do imponderável.

* Advogado eleitoral, ex-advogado de Eduardo Campos