Paulo Hartung
O Globo
A ciência já traduziu em diagnósticos e projeções o recado de esgotamento que o planeta está mandando insistentemente. Se não limitarmos o aquecimento global em 1,5 °C, estaremos colocando em risco o futuro.
Com este pano de fundo, o Dia da Árvore, recentemente comemorado, torna-se ainda mais emblemático. Para vencermos a batalha, temos como uma de nossas missões remover o CO2 da atmosfera, um dos principais gases de efeito estufa. O meio mais eficaz para isso é a fotossíntese vegetal.
ECONOMIA VERDE – Assim, o plantio de árvores, de modo planejado, e a manutenção da floresta em pé se mostram imprescindíveis, especialmente neste momento em que emerge a economia verde. Produzir e cuidar do meio ambiente é possível e temos exemplos dentro do país.
Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o setor de árvores cultivadas planta 1,5 milhão de árvores produtivas todos os dias no Brasil! Essas árvores, plantadas, colhidas e replantadas — comumente em áreas antes degradadas —, são matéria-prima para itens do dia a dia, como embalagens de papel, tecidos, fraldas, livros, painéis de madeira, pisos laminados, entre outros.
São produtos certificados, de origem renovável, recicláveis e biodegradáveis. Muitos deles com capacidade de substituir aqueles de origem fóssil.
CONSERVAÇÃO – O setor vai além e conserva mais de 6 milhões de hectares, extensão maior que o Estado do Rio. Áreas de mata nativa que são integradas aos plantios produtivos numa técnica de manejo chamada mosaico florestal, criando corredores ecológicos. Esse cuidado com o meio ambiente posiciona a silvicultura brasileira como um benchmark global.
Com criatividade, somos capazes de aproveitar as potencialidades da natureza. A Symbiosis Investimentos, no sul da Bahia, aposta no plantio comercial de árvores nativas da Mata Atlântica. Além disso, fundos estão sendo articulados para investir em projetos de restauração dos biomas brasileiros, como re.green e Mombak.
É fundamental cuidar da Amazônia. A Floresta Amazônica regula o regime de chuvas e nos permite até três safras agrícolas anuais. Assim, ajudamos a alimentar 10% da população mundial.
OUTROS PONTOS – Na Amazônia está a maior biodiversidade do planeta. Ainda temos a chance de monetizar o imenso volume de carbono imobilizado, com a possível regulação do mercado global de créditos de carbono na COP27. Esse ativo pode ser transformado num hub de negócios sustentáveis.
Para isso, o passo número um é coibir as ilegalidades ambientais, com atenção especial à região. É preciso conter o desmatamento, a grilagem de terras, as queimadas e o garimpo ilegal. A receita nós já temos.
No entorno da Rio 92, foram criados o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, além de ter havido investimentos em capacitação de agentes de fiscalização. Hoje podemos avançar no uso das imagens de satélite. Mas temos condições de ir além do comando e controle.
NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS – É possível identificar modelos de negócios sustentáveis que podem ganhar escala, como o açaí, a castanha-do-brasil ou o cacau. Investir em pesquisa e desenvolvimento pode impulsionar soluções amazônicas para as indústrias farmacêutica e cosmética, entre outras.
Esse pode ser um caminho para vencermos o triste paradoxo que vive a região, que possui ricos ativos ambientais, mas deixa boa parte de seus 25 milhões de brasileiros e brasileiras à beira da miséria, sem infraestrutura básica como saneamento e saúde.
Se hoje o mundo precisa enfrentar a emergência climática, não há dúvida de que somos parte da solução. Para isso, é imperativo ultrapassar a barreira dos desafios ambientais e colocar o tema no centro de políticas públicas e do planejamento de negócios da iniciativa privada. Peça central para enfrentar urgências do presente, o Brasil se posiciona também como potencial protagonista na impositiva reinvenção do futuro do planeta.