Os rigores da Lei. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

“Aos inimigos, os rigores da Lei!”.

A frase é do saudoso Cel. Adelson Vanderley, uma das pessoas mais íntegras que o futebol me apresentou. O grande conhecimento da matéria futebol, e a seriedade como tratava todos os assuntos pertinentes ao esporte mais popular do planeta, lhes levaram a ser respeitado, querido e admirado por todos que militam na “Pátria de Chuteiras”, e tiveram o privilégio de lhe conhecer.

Os bastidores do futebol pernambucano fervem com a deflagração do processo eleitoral para a escolha do futuro presidente da FPF. Mexeram no tacho e o odor é igual ao exalado quando se mexe numa latrina.

– Nada é feito fora da Lei! Me assegurou um “cartola”.

No que lhe respondi: Só se for a Lei do Cão.

“Pode! Pode tudo”, cantaria o Tim Maia. Verdade. Em se tratando de eleições nas entidades do futebol brasileiro tá podendo até homem com homem e mulher com mulher. Até porque, nos dias de hoje homofobia é crime.

Certa vez, o ex-presidente da FPF, Carlos Alberto Oliveira, estava na calçada do prédio do Palácio dos Desportos Rubem Moreira, sede da entidade que rege o futebol estadual, quando passou dois populares, e um exclamou para o outro em bom som: “Aí é a casa do mondéo”.

Traduzindo: O torcedor quis dizer para o amigo que naquele edifício é onde se fazia os conchavos, as tramoias e tudo mais que existe de errado no futebol.

Parodiando Dom Hélder Câmara podemos dizer: “Vocês pensam que o torcedor não sabe. O torcedor sabe”.

E todos já estão carecas, ou de cabelos brancos, de saberem que, nas eleições da CBF, Federações, Ligas… existe uma moeda de troca chamada FAVORES. E ela é maior que o Real, o Dólar, a Coroa, Criptomoeda… Como no futebol a emoção é um diferencial que desbanca qualquer pragmatismo, os FAVORES funcionam como ferramentas que atuam no sentimento. E criam uma dependência que é confundida, é explorada, como gratidão, mas que na verdade não passa de uma compra de votos.

Dia desses, fomos passar um final de semana em um flat, em Gravatá, e minha mulher, Áurea Regina, chamou a faxineira e lhe deu uma generosa gorjeta logo que chegamos. A moça sorriu e disse: “Poxa! As pessoas nunca agradam na chegada”.

E Áurea lhe deu o recado: “Quem agrada quer ser agradado”.

É a lei do toma lá, dá cá! Bem assimilada por federações, ligas e clubes de poucos recursos no futebol brasileiro. O cenário é o mesmo desde a década de 30 do século passado.

Não me venham falar do politicamente correto. Em se tratando de eleições em entidades e clubes do futebol brasileiro, o que vale são os rigores existentes em estatutos e regulamentos caducos. Eles são responsáveis pelo conservadorismo que impede a evolução.

Com a chegada da nova ordem se chegou a pensar que o obscurantismo estaria perto do fim. Ledo engano. O que estamos vendo neste processo sucessório em curso, na FPF, é uma mostra de que o nosso futebol ainda se rende aos senhores feudais.

Quanto vale um favor? Me perguntou o rubro-negro, Bernardino Magalhães, de Serra Talhada.

Favor não tem preço! Lhe respondi.

Como as Ligas e os clubes de parcos recursos são vulneráveis, quem tem o comando utiliza os “rigores da Lei”.

Eu fico com a pureza da resposta do torcedor:

“É muito mondéo!”.