Moro constatou corrupção no Podemos e agora está brigando com Alvaro Dias

Moro disputa eleição contra o antigo mentor, Alvaro Dias

Gustavo Schmitt
O Globo

O embate eleitoral entre o ex-juiz Sergio Moro e o seu ex-padrinho político Alvaro Dias por uma vaga ao Senado pelo Paraná se transformou numa troca de acusações. Não por acaso, agora o ex-magistrado e o Podemos ameaçam ir à Justiça para resolver a contenda.

Moro acusa a antiga sigla de não tomar medidas contra suspeitas de corrupção interna. O ex-magistrado afirma que condicionou a sua permanência no Podemos à contratação de uma auditoria externa para apurar possíveis irregularidades. Segundo o ex-juiz, o resultado preliminar indicou sólidos indícios, mas os dirigentes da sigla e Alvaro Dias nada fizeram a respeito. Moro afirma que esse foi o principal motivo que o levou a deixar a legenda e migrar para o União Brasil.

INVESTIGAR MAIS – “O resultado preliminar indicou a necessidade de aprofundamento, em face de sólidos indícios. O assunto era de conhecimento da alta direção do Podemos e de lideranças como o Senador Álvaro Dias, que decidiram não tomar qualquer medida após o resultado preliminar”, disse a nota da assessoria do ex-juiz.

O Podemos, por sua vez, rebate. A sigla sustenta que Moro beneficiou a empresa de um amigo advogado, que supostamente não teria apresentado relatórios de prestação de serviço referente ao trabalho de formulação do programa de governo do ex-juiz, cujo projeto na época era concorrer à presidência da República.

Ainda de acordo com o Podemos, o ex-juiz exigiu reembolso do fundo partidário para repaginar o visual com roupas de grife. O partido, no entanto, afirma que não fez esse pagamento por falta de comprovação do objeto.

SEM IRREGULARIDADE – O GLOBO apurou que o valor foi quitado com recursos próprios do aliado e primeiro suplente da chapa de Moro, o advogado Luis Felipe Cunha, que, em entrevistas, tem negado qualquer irregularidade.

Questionado sobre o assunto, Moro respondeu: “O fato é mentiroso e jamais pedi algum tipo de reembolso neste sentido”.

A legenda apresentou uma nota fiscal de camisas, calças e bermudas, entre outros itens, que somam R$ 45 mil. O recibo é de uma loja de Alfaiataria em Moema, na Zona Sul da capital paulista. Aliados de Moro afirmam que a mudança no vestuário do ex-juiz foi feita a pedido da própria direção do Podemos, que pretendia suavizar sua imagem de austeridade.

DIZ O PODEMOS – O partido contestou a acusação de Moro de que há indícios de corrupção na legenda. A legenda divulgou uma nota da empresa responsável pela auditoria, a Saud Advogados, do último dia 30 de agosto. Nela, o escritório informa que a apuração não conclui a ocorrência de “atos ilícitos”.

O escritório responsável pela auditoria, porém, acrescenta que “foram identificados pontos de atenção e oportunidades de melhoria para o programa de compliance do Podemos”.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-juiz disse ao GLOBO que adotará “medidas judiciais cíveis e criminais cabíveis” contra o Podemos e seus dirigentes envolvidos em acusações caluniosas e difamatórias contra ele.