Carlos Pereira
Estadão
O PT e o PDT são duas das principais agremiações partidárias de esquerda no Brasil. Entretanto, têm trajetórias bastante diferentes. Uma minúscula diferença de votos, precisamente 0,65%, definiu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Leonel Brizola no primeiro turno das eleições de 1989, a primeira eleição direta para presidente após a redemocratização, quando Lula obteve 16,69% enquanto Brizola 16,04% de votos.
Essa ínfima discrepância de votos parece ter definido não apenas quem iria disputar o segundo turno da eleição presidencial contra Fernando Collor naquele ano, mas fundamentalmente determinou as trajetórias partidárias futuras que tanto do PT como do PDT passaram a seguir.
IMPACTOS DECISIVOS – Assim como na vida das pessoas, a performance obtida em encruzilhadas históricas tem um impacto decisivo sobre os passos seguintes que partidos irão tomar e sobre a influência que vão exercer na política de um determinado país.
Mesmo perdendo o segundo turno para Collor, o PT passou a ser um partido protagonista ao perseguir consistentemente a trajetória majoritária lançando candidatos competitivos à Presidência em todas as eleições subsequentes. Além do mais, o PT se tornou o núcleo sobre o qual todos os outros partidos da esquerda brasileira passaram a gravitar.
Embora o PDT tenha lançado candidatos à Presidência em duas outras ocasiões, Brizola em 1994 e Ciro Gomes em 2018, as derrotas eleitorais nessa trajetória levaram o PDT a se tornar essencialmente um partido coadjuvante no Legislativo, na grande maioria das vezes exercendo o papel de parceiro do PT em suas coalizões no Congresso.
CONVENÇÃO NACIONAL – Nesta quarta-feira, dia 20, o PDT realiza a sua convenção nacional. Ciro vai tentar mudar a sua sina pessoal (já foi candidato a presidente em três outras ocasiões) e, principalmente, a trajetória de seu partido que busca o protagonismo político nunca alcançado. Será desta vez?
Ciro tenta se posicionar como um candidato alternativo, uma espécie de terceira via à intensa polarização entre Lula e Bolsonaro. Os 8% em média de eleitores que tem demonstrado intenção de votar nele apresentam um perfil formado basicamente por funcionários públicos, brancos, escolarizados e com renda elevada. Ou seja, são basicamente eleitores de esquerda frustrados com as gestões ineficientes e desviantes do PT.
Para se tornar mais competitivo, Ciro necessitará ampliar o perfil dos eleitores. É muito difícil que Ciro consiga ser competitivo no eleitorado de centro-direita e direita. Precisa, portanto, mirar especialmente os eleitores que orbitam a candidatura de Lula. Daí porque não pode prescindir de fazer uma crítica implacável à candidatura de Lula.