As mentiras construídas para parecer notícias que infestam o ambiente em tempos eleitorais não são feitas sem técnica
O algoritmo da rede, como ocorre aliás em qualquer rede, elege critérios ligados a nosso engajamento para definir que postagens nos apresentará. Tudo conta: cliques, curtidas, se foi visto por amigos com quem interagimos muito, até tempo que gastamos lendo. Pois, para o conteúdo político, o Facebook agora dará menos ênfase aos comentários e aos compartilhamentos na hora de decidir se nos mostra algo ou não.
Compartilhamento, aqui, é chave. Essa é a principal ferramenta para distribuir desinformação. As mentiras construídas para parecer notícias que infestam o ambiente em tempos eleitorais não são feitas sem técnica. Pelo contrário: são refinadas para confirmar o viés político de quem lê e para estimular o compartilhamento. São feitas para ser virais. Quando o Facebook diminui o número de postagens compartilhadas de política, diminui principalmente a desinformação.
Essa é a observação de inúmeros especialistas que se debruçaram sobre o tema e também a indicação de Frances Haugen, ex-gerente de produto que deixou a companhia para denunciá-la ao Congresso americano. Haugen está no Brasil e, por aqui, observou justamente isso. Se a rede desejasse diminuir desinformação, a primeira coisa a fazer seria reduzir o compartilhamento. Pois fez. Por esse ângulo, portanto, a notícia é boa.
—O Facebook é uma rede bolsonarista — contou nesta semana um pré-candidato a deputado federal que começou a planejar sua campanha.(Ainda estamos naquela fase em que a lei e suas excentricidades nos fazem fingir que são pré-candidatos.)
O problema é o custo da propaganda. Quem faz anúncio digital paga mais ou menos de acordo com o número de concorrentes. Se muita gente quer brigar por um perfil específico de consumidor — ou eleitor —, o preço é mais alto. E, no Facebook, o bolsonarismo está gastando tanto dinheiro que a rede se tornou pouco competitiva para candidatos de outras linhas.
Enquanto a rede diminuirá o alcance orgânico da informação política, pelo caminho da publicidade o grupo político responsável pela infestação de mentiras ainda a domina. E, segundo Haugen, no Brasil o investimento em combate à desinformação pelo Face é ainda bastante baixo. Em nada se compara com o que ocorre noutras praças.
A luta é contínua e exaustiva. Em abril, o próprio Face tirou do ar uma rede de perfis e páginas operadas por dois militares do Exército brasileiro. Faziam se passar por três ONGs ambientalistas. Seu discurso, porém, era de elogios à atuação do Exército na Amazônia, ao governo Jair Bolsonaro e de ataques às outras ONGs. Saíram do ar, sim, mas saíram não porque funcionários da Meta descobriram a operação. Foi uma equipe da Graphika, uma empresa de inteligência digital, que conseguiu identificar o jogo para desinformar.
A briga mal começou, 2022 será pior do que foi 2018, e outubro, o mês da eleição, já é logo ali.