Duarte Bertolini
Minha desolação só aumenta. Não tenho ânimo para comentar as matérias e notícias, porque o circo da polarização apresenta sempre o mesmo espetáculo. O Brasil é uma imensa revoada de moscas sobre um mar de podridão. Embora potencialmente rico, vive estagnado, sem distribuir a renda mais racionalmente.
No entanto, para evitar que percebamos o mau cheiro e a inutilidade de todo este sistema, ficam espertamente lançando novas narrativas, entabulando discussões estéries, firmando posições ilusórias, tudo para evitar que se discuta o real situação e a deterioração de todo este bolo que foi criado e aumentado ao longo dos séculos. A poucos interessa, na verdade, mudar isso.
TERCEIRA VIA – Ainda mantenho um resto de esperanças na terceira via, mas se observarmos com profundidade, o quadro continua desanimador.
É difícil não se entusiasmar com Ciro Gomes. Mostra conhecimento e experiência, não foge dos assuntos com conversinha mole e manobras diversionistas. Mas já serviu a todos os senhores, tem um temperamento meio incontrolável e não deixa de ser um beneficiário deste sistema. Sempre haverá um governo, um senado, uma prefeitura no Ceará para acomodá-lo. Mudar tudo, radicalmente, é arriscadíssimo também para ele.
Então o velho escritor Giuseppe di Lampedusa se manifestará, cedo ou tarde, provável e infelizmente, para mostrar o apodrecimento das elites. E os intelectuais poderão sempre repetir o imortal Casablanca: “Sempre teremos Paris…”
SIMONE DECEPCIONA – A senadora Simone Tebet não é suficientemente conhecida. Vi seu desempenho na CPI, me pareceu articulada, firme e sem medos. Mas tem dois pecados intransponíveis. É do MDB/PMDB, que se tornou digno de que o baluarte Pedro Simon tivesse proferido (acho que não disse, mas sempre demonstrou claramente isso): “Depois de mim, o dilúvio””
O diluvio do MDB de Temer, Jucá, Renan & Cia é movido a negociatas, conversas fiadas, acordos e arapucas, jogos de cena e de guerra, tudo para se manter como sombra chantagista do poder e usufruir todas possibilidades de negócios.
A maior decepção foi a declaração de Simone Tebet, certamente sincera e genuína, mas imprevidente, inoportuna, suicida para sua candidatura: “No segundo turno, apoiarei Lula”
MILAGRE DUVIDOSO – Ora, quem dos eleitores que votaram em Bolsonaro para fugir de Lula, ou que estão “por aqui” com Bolsonaro, irá votar nela depois de uma declaração destas? Para mim ficou claro que está no jogo apenas para embaralhar o centro e os votos do bozo, de forma a permitir uma vitória de Lula no primeiro turno (se possível)
Qual a necessidade desta declaração, se tivesse realmente o propósito de se mostrar como opção ao eleitor? Para que votar no capataz, se posso votar no dono da fazenda? Então, mesmo ainda esperando o milagre, é difícil de acreditar que ele realmente vai acontecer.
Abraços a todos os não fanatizados