A Polícia Federal prendeu, na manhã de hoje, mais um suspeito de ter participado do assassinato do indigenista Bruno Pereira, 41, e do jornalista britânico Dom Phillips, 57. Jefferson da Silva Lima, que tem o apelido de Pelado da Dinha, é o terceiro investigado preso no caso. As informações são da Folha de S. Paulo.
Segundo a PF, Jefferson se encontrava foragido e se entregou na Delegacia de Polícia de Atalaia do Norte. Ele será interrogado e encaminhado para audiência de custódia.
Dois homens já estavam detidos pela morte de Bruno e Dom: Amarildo Oliveira, conhecido como Pelado, e o irmão dele, Oseney de Oliveira, o Dos Santos.
Pelado prestou depoimento na última terça e confessou ter participado da morte do indigenista e do jornalista, de acordo com a polícia. Na última quarta-feira, ele levou os investigadores ao local do crime. Dois corpos foram localizados na região.
A perícia já concluiu, ontem, que um deles é de Dom e aguarda análise do material genético de Bruno para poder confirmar se o outro é dele.
A Folha apurou que Pelado mudou sua versão dos fatos. Em um primeiro momento, ele apontou duas pessoas como autoras do assassinato e disse ter participado da ocultação dos cadáveres. Agora, afirma que ele também realizou os disparos contra Bruno e Dom.
Nesse segundo depoimento, Pelado afirmou ter se juntado com Jefferson, com quem seguiu o barco da dupla e deu tiros de espingarda.
Fontes ouvidas pela reportagem dizem que a confissão só foi feita por Pelado. Dos Santos disse não ter participação no assassinato. Pelado também nega que seu irmão tenha agido no caso.
A polícia ainda apura a motivação do crime. Como mostrou a Folha, investigadores que atuam no caso têm afirmado reservadamente que as evidências e provas até o momento reforçam a hipótese de que as atividades ilegais de pesca e a caça na região são o pano de fundo do caso.
“As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”, afirmou a PF em nota.
O comunicado indignou a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), que afirma que a PF ignorou as denúncias feitas por eles. De licença não remunerada na Funai, Pereira trabalhava como fomentador da vigilância indígena na instituição.
“O requinte de crueldade utilizado na prática do crime evidencia que Pereira e Phillips estavam no caminho de uma poderosa organização criminosa que tentou a todo custo ocultar seus rastros durante a investigação”, afirmou a entidade indígena.
“A PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021 […] Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à terra indígena Vale do Javari, do qual Pelado e Dos Santos fazem parte”, completou.
A Univaja alega ainda que o grupo criminoso é formado por caçadores e pescadores profissionais e foi descrito em documentos enviados ao Ministério Público Federal, à própria PF e à Funai.
Policiais federais também buscam formas de encontrar o barco que era utilizado por Bruno e Dom. A embarcação foi afundada com sacos de terra, segundo divulgado pela PF.
Em nota nesta quinta, a PF afirmou que não ainda foi encontrada a embarcação, “apesar de exaustivas buscas” realizadas na área indicada pelo pescador preso.
Após dizer que a dupla uma “aventura não recomendada” pelo Vale do Javari, o presidente Jair Bolsonaro (PL) desejou, na última quinta, sentimentos e confortos aos familiares dos dois.
“Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos”, escreveu ele no Twitter, respondendo a uma nota de pesar pela morte da dupla publicada pela Funai.
Foi a primeira declaração de Bolsonaro após a PF divulgar que Pelado havia confessado ter assassinado Bruno e Dom. Antes, quando comentou o caso, por diversas vezes o presidente minimizou o desaparecimento dos dois no Amazonas.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, classificou o provável assassinato como “crime cruel” e “uma maluquice”.
Bolsonaro foi alvo de críticas feitas por Bruno Pereira em entrevista por telefone à Folha ?no meio de abril, cerca de um mês e meio antes do fatídico domingo (5) em que ele desapareceu.
“O presidente não demarcou um centímetro como ele prometeu. O presidente da Funai, o [Marcelo] Xavier, está lá para isso. É a administração do caos. Não sei não [suspiro]. Difícil, cansativo, perigoso. Vamos simbora”, respondeu ele na conversa.